Paul Devereux

Do fundo universal mágico-espiritual do animismo e do totemismo surgiu o fenômeno religioso catalisador do xamanismo. O xamã era um intermediário entre o mundo espiritual da natureza e a tribo. Através do que Eliade chamou “técnicas arcaicas de êxtase”, o xamã entrava em transe, ou estados alterados de consciência, e viajava para mundos do espírito, em busca da informação requerida pela tribo, para reclamar as almas errantes ou arrebatadas dos membros da tribo doentes, para guiar a alma de um moribundo ao Outro Mundo, para conseguir a ajuda de espíritos auxiliares, para rechaçar os ataques dos xamãs de outras tribos ou perpetrar os seus.

O xamã podia ver para trás no tempo e predizer acontecimentos vindouros.

Um importante elemento do xamanismo era a capacidade de viajar-se em espírito através do meio-ambiente observar acontecimentos distantes; tal era conseguido assumindo a forma de um animal ou ave, ou diretamente através daquilo a que chamaríamos de experiência fora-do-corpo. Este vôo mágico é de fato, o sentido essencial de êxtase (fora dos sentidos). Era um dos fundamentos do xamanismo e aí atingiu sua expressão mais sofisticada.

O xamã seria também um curandeiro, um feiticeiro e, em muitas aspectos um ator, sendo capaz de representar (e de facilitar) curas através de impressionantes demonstrações de perícia natural e do uso de representações teatrais e ventriloquismo, com grande efeito psicológico no doente e nos membros da tribo que assistiam. No entanto, um feiticeiro, ou um curandeiro, não era necessariamente um xamã.

O xamanismo foi o precursor de algumas das principais religiões das sociedades mais estruturadas, tais como o Budismo, o Taoismo, o Zoroastrismo e o Tantrismo. Pode-se-ia dizer que estas religiões representam um xamanismo modificado e que, por sua vez, afetaram as tradições xamânicas continuadas ou marginalizadas, nas culturas que dominaram.

A ocorrência do xamanismo variou de sociedade para sociedade. Nos casos clássicos o xamã era o “homem sagrado”, o foco religioso solitário da tribo. Noutras culturas, o xamanismo estava mais espalhado, mesmo entre os membros vulgares da tribo; sessões cerimoniais definidas ocorriam em meios em que toda a gente tivera a experiência mística de seus aderentes privilegiados.

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