Terence McKenna
O xamanismo deve representar em qualquer renascimento autêntico das formas arcaicas vitais de ser, viver e compreender. O xamã consegue entrar num mundo que está oculto para quem vive a realidade comum. Nessa outra dimensão se escondem tanto poderes úteis quanto malévolos. Suas regras não são as regras de nosso mundo; parecem mais as regras que atuam nos mitos e nos sonhos.
Os curandeiros xamânicos insistem na existência de um Outro inteligente em alguma dimensão próxima. A existência de uma ecologia de almas ou de uma inteligência não encarnada não é uma coisa com a qual a ciência possa se atracar e em seguida emergir com suas premissas intactas. Particularmente se esse Outro tem feito patê da cultura terrestre há muito tempo, presente porém invisível, compartilhando um segredo global.
Mesmo que tenha variação entre culturas e indivíduos, a estrutura geral da iniciação xamânica é clara: o neófito passa por uma morte e uma ressurreição simbólica, o que é entendido como uma transformação radical em uma condição sobre-humana, é um senhor do êxtase, pode viajar à vontade no reino do espírito e, mais importante, pode curar e adivinhar. Resumindo o xamã é transformado de um estado profano em um estado sagrado. Ele não somente efetuou sua cura pessoal através dessa transmutação mística; agora ele está investido com o poder do sagrado, e, portanto pode curar também os outros. É importantíssimo lembrar que o xamã é mais do que simplesmente um homem doente ou um louco; ele é um doente que se curou, que está curado, e que deve atuar como xamã para permanecer curado.
Silenciosamente e fora da história, o xamanismo prosseguiu o seu diálogo com o mundo invisível. O legado do xamanismo pode atuar como uma força estabilizadora destinada a redirecionar nossa consciência para o destino coletivo da biosfera. A fé xamânica é de que a humanidade tem aliados. Existem forças favoráveis à nossa luta para nascermos como espécie inteligente. Mas são forças silenciosas e tímidas; devem ser procuradas não na chegada de frotas alienígenas no céu da terra, e sim aqui perto, na solidão dos locais ermos, juntos às cachoeiras; e sim; nas pastagens agora tão raras sob nossos pés.