Cuidados Com A Iniciação
O mais importante para quem começa é que através das práticas xamânicas conseguimos nos conectar com nossos mitos, símbolos, nossa verdade interior. Conseguimos expandir a nossa percepção para ir aos mistérios que estão guardados em nós mesmos. Aprendemos a sentir, ver e ouvir a energia. Nos religamos com o sagrado e com a fonte criativa de tudo o que nos acontece.
Através da consciência ordinária, não conseguimos alcançar níveis profundos do nosso ser, seria como tentar sintonizar uma estação de frequência modulada (FM) com um radinho AM. Existem diversas técnicas ou rituais para se chegar a estados mais profundos de consciência, dentre elas destaco os tambores.
O Tambor é considerado universalmente como um instrumento indispensável do xamanismo. É o veículo pelo qual os xamãs fazem suas viagens a outros mundos. Os nativos associam o toque do tambor às batidas do coração da Mãe Terra e também ao som do útero.
O seu batimento monótono (150 a 200 batidas por minuto), emitem uma vibração semelhante ao aparelho de eletroencefalograma, emitindo sons de baixa frequência, produzindo modificações no sistema nervoso.
Também pode chegar-se ao EAC, através de danças, que depois de um longo período, libera endorfinas. Jejuns, respirações, posturas corporais, tendas de suor, cantos, sacrifícios corporais também produzem EAC. A forma mais poderosa que conheço para chegar ao EAC é através de Plantas Sagradas. São chamadas, por ignorantes, de alucinógenos, drogas, etc. Fato esse compreensível pois quem as rotula dessa forma, provavelmente nunca teve a coragem de conhecê-las realmente.
As plantas de poder aumentam a percepção, a acuidade visual e auditiva, e transportam o praticante para outras camadas vibracionais ou dimensões. Os cuidados a serem tomados, são os mesmos de qualquer busca. Saber da idoneidade e dos propósitos dos condutores, lembrando que por trás de líderes espirituais, gurus, etc; também existe uma personalidade humana com defeitos.
No caso de Plantas de Poder, procure uma instituição legal, tais como; O Santo Daime, A UDV ( União do Vegetal ), a Barquinha ou então com um condutor que tenha notoriedade e experiência no uso das Plantas Maestras. Neste caso o tempo de experiência do condutor é fundamental. Não se arrisque com curiosos neófitos! São anos de experiencia para saber lidar com as mais diversas situações dentro da manifestação dos enteógenos.
O xamã, não se autoproclama. Ele é chamado para suas tarefas espirituais, passa por treinamentos e então é reconhecido pelas pessoas de sua comunidade. Trata-se de um sacerdócio. É uma missão de utilidade pública. A iniciação tem um fundamento nas bênçãos recebidas pelos instrutores que passam uma espécie de “autorização espiritual” para conduzir cerimônias. Isso é honrar o conhecimento e não usurpar, e nem banalizar o processo de iniciação espiritual. Várias pessoas se denominam, mas o que determina é o trabalho espiritual. Tem gente que se denomina ator político, técnico de futebol, terapeuta, professor. Tem gente que se denomina espiritualista. Tem gente que se denomina Pai-de-Santo. Enfim, no xamanismo também!
Há pessoas que se autodenominam xamãs, que no final das contas aprenderam alguns conceitos, nunca foram numa floresta, nunca foram a estados profundos de consciência, mas estão dando aulas e conduzindo cerimônias. Fuja daqueles que se consideram mestres. São pessoas que geralmente se apoiam em “vidas passadas”. Dizem ter sido xamãs em vidas passadas, reencarnações nativas poderosas e que escutam as “vozes do espírito” para compensar seu pouco conhecimento nesta vida, que é o que vale.
É uma iniciação séria e não uma prática que se aprende em um final de semana. Um xamã transformou a sua vida, conseguiu a sua cura através de profundos processos de morte e renascimento, lidou com perdas, enfrentou entidades, foi ao seu “inferno pessoal” encarando sua própria sombra e obteve o conhecimento essencial e o reconhecimento de seus instrutores para poder compartilhar com os outros.
Lembro também que xamanismo não é só praticas de rituais e cerimônias, e sim uma forma de vida, uma nova visão do mundo, que se aplica, primeiramente no condutor. São anos de preparação.
Ninguém, entretanto, precisa ser um xamã para praticar xamanismo. Você pode ir à missa, sem se tornar um padre. Ser xamã implica em iniciações e transformações de profundo significado que visam preparar o aprendiz para ajudar o próximo, e passar a sua vida nisso. Não são todos os que estão preparados para abrirem suas vidas para se dedicarem verdadeiramente ao outro. Não se aprende a ser xamã em salões de espaços esotéricos. Neles você encontrará as práticas xamânicas, que lhe colocarão em contato com a egrégora, isto, se o condutor for realmente um iniciado e não um oportunista que nunca se entregou a processos de morte e transformação e só fez o caminho das flores sem tocar nos espinhos. No xamanismo também aprendemos a lidar com o Mundo da ilusão.
Perante a sociedade atual em que vivemos é a mesma coisa. Não basta ter conhecimentos médicos, se a sociedade não dá um diploma não é possível exercer a medicina de forma legal. Não basta ter conhecimento sobre as emoções, se não receber um diploma, ou melhor, se não há uma formatura, é possível ser conselheiro, mas não psicólogo ou psiquiatra. Tudo que é sério requer um ritual de passagem, uma iniciação. Muitos buscadores percebem um pequeno FLASH de luz, achando que já estão iluminados, e depois percebem, com ocorrências na sua própria vida, o que é a ilusão do poder.
As tradições, as escolas iniciáticas, as religiões, as organizações, garantem que o trabalho do ego esteja dentro de uma unidade. Ou seja, não vai da cabeça de cada um que já se acha pronto, e sim, passo a passo, após uma busca incansável e dedicação, e a confiança na continuidade do trabalho espiritual. É assim nas Escolas Iniciáticas, nas artes marciais, nas escolas de formação educacional, nos esportes, na vida profissional… Alguns Mestres Espirituais já vieram prontos como Jesus, Buda, Lao Tsé e também passaram por seus aprendizados. Não procure ninguém diplomado em xamanismo, pois quem dá esse diploma é o próprio Universo. O certificado é a história da vida de quem é um condutor sério e bem intencionado, num mundo onde tudo é banalizado.
O xamanismo está além dos rituais, é um jeito de viver. Ser um xamã é abraçar um sacerdócio, não é um trabalho somente terapêutico, é uma caridade de alto risco, é assumir uma responsabilidade com o Universo de viver em harmonia com a natureza, de ajudar o próximo, de transformar o ambiente em que vive, de ser aparelho de transformações nas pessoas que dele se aproximam. Uma mudança radical, profunda, verdadeira.
Ser xamã não é uma profissão, é um dom.
Por Todas As Nossas Relações
LÉO ARTESE