Os Guerreiros do novo milênio

 

Palestra para o Grupo Qualidade de Vida – Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 17 de maio de 2001

 

Desenvolvimento de lideranças à luz do xamanismo:

Os guerreiros do novo milênio

por Rogério Bari Meri   e   Anne Marie Zemgulis

 

O xamanismo está sendo redescoberto atualmente como uma grande fonte de valores, conceitos e técnicas de desenvolvimento que possibilita a reavaliação e reorganização de estruturas.

O conceito de liderança neste novo milênio muito se assemelha com os conceitos tribais ou das matilhas de lobos que inspiraram Twyman L. Towery, consultor organizacional que escreveu o livro A sabedoria dos lobos. As organizações tribais sempre funcionavam como unidades, respeitando as diferenças individuais e empregando com sabedoria os talentos natos, incentivando o desenvolvimento do poder pessoal ao favor da comunidade. A importância de cada membro da tribo estava clara, como o fato de que todos deveriam esforçar-se o máximo pelo sucesso de sua tribo, pois só assim   poderiam garantir uma melhor qualidade de vida e a sobrevivência de todos. Sabiam que a fraqueza de um poderia custar a vida da organização e grande ônus para todos.

Uma visão destorcida em determinada época levou o conceito que só existia uma forma de trabalho, o papel do comandante ditava o que os funcionários deveriam fazer, o papel do avaliador julgava seu desempenho e distribuía os respectivos prêmios e punições e a tomada de decisões era restrita à gerência.

Veremos então o líder do novo milênio. Sua primeira obrigação é definir a realidade, obter os fatos, ser capaz de enxergar tanto a floresta quanto as árvores. Deverá saber definir prioridades e valores. Conforme Peter Senge, é neste ponto que surge o designer ou projetista, pois o líder deverá partilhar uma visão, um propósito, uma intenção estratégica, um sonho, uma missão. Estes objetivos e metas legítimos deverão ser comunicados claramente e com persuasão, inspirando aceitação e compromisso por parte dos seguidores. Só assim, a intenção e a visão se tornarão realidades.

O líder delega, mas também age, fazendo o que for necessário para ajudar a todos a conquistar a batalha.

Liderança também significa servir, ensinar e orientar. O agente de mudança ou visionário identifica e passa adiante maneiras novas e melhores de alcançar a missão, aproveitando bem todos os talentos. Sabe a importância de construir uma visão compartilhada na sua equipe.

Encorajador e otimista, admite os erros como oportunidades de aprendizagem. Um homem ou uma mulher de caráter, que não é apenas competente e responsável, mas que tenha integridade e que respeita a todos, gera e sustem confiança, pois sabe ouvir a todos. É um facilitador, que fornece os recursos para superação dos obstáculos e a conquista de bons resultados.

E, finalmente, destacando algumas colocações de Tom Peters, o líder deverá ser sempre flexível, ter paixão e intuição e nunca esquecer que tudo faz parte de um universo que a física quântica de nossos dias conceptualiza como uma teia interconexa de relações e simbioses.

 

Resgatando o Xamanismo

O termo xamanismo é de origem siberiana, baseado no conceito do saman, que identifica aquele que não perdeu a integração, que compreende os espíritos, os homens, as dimensões, as plantas, pedras, os animais, os elementos e as direções. A Natureza conspira a seu favor, pois é integrado. A totalidade faz parte de sua realidade, uma vez que enxerga e compreende todos os lados da montanha.

O termo saman, de origem siberiana, foi adaptado para shaman em inglês — xamã, na língua portuguesa. Embora o primeiro uso registrado do termo shaman na língua inglesa data de 1698 e do termo shamanism (xamanismo) de 1780, o xamanismo existe há milhares de anos. Temos registro de rituais xamanísticos desde a época do homem Neandertal. A partir desta época, o xamanismo se propagou pela Sibéria, Europa, Américas, Ásia, África, enfim, pelo mundo inteiro, sendo conhecido por nomes variados. Podemos dizer que, o que hoje denominamos xamanismo foi a essência de onde surgiram várias formas de crenças, religiões, filosofias, terapias e medicinas. Assim, hoje compreendemos porque tantas pessoas de diversas religiões e crenças também praticam o xamanismo. Diríamos até que o xamanismo é a síntese da espiritualidade, da integração e da essência divina.

O xamanismo, como o entendemos hoje, não é religião, seita ou nenhuma produção Hollywoodiana de índios e soldados. O xamanismo é uma maneira de vida, uma filosofia espiritual profunda onde seu templo é a própria Natureza — matas, praias, cachoeiras, montanhas, etc. Tem como objetivo a integração do homem consigo mesmo e com a Natureza, mostrando de forma clara as possibilidades e a compreensão das diversas dimensões.

Através do despertar da espiritualidade, o homem resgata o seu coração e a maturidade multidimensional. Apreende através de vivências e experiências próprias a lidar com as realidades não-ordinárias e com a vida que existe em tudo, respeitando e direcionando sua atenção em movimentos harmônicos e integrados.

No xamanismo, é evidente a inter-relação de tudo. Valoriza as essências e compreende as formas. Não existe distância de nada; tudo está perto e faz parte de um Todo, uma Grande Família. O Céu é o Grande Pai e a Terra , a Mãe, o Sol, o Avô e a Lua, a Avó. Os vegetais são o Povo em Pé e as pedras, o Povo de Pedra, os animais, nossos irmãos mais jovens. Dessa maneira, a Natureza, Deus e toda sua criação não estão longe do homem nem fazem parte de outra realidade.

Podemos então concluir que através da integração, compreensão e sensibilidade, iremos redescobrir um mundo mágico onde a vida possui enorme brilho, equilíbrio e harmonia, onde tudo existe em essência e forma de acordo com seu grau evolutivo, onde tudo faz parte de um Todo no qual o homem é um microuniverso de potenciais a serem descobertos. Somos condenados a sermos felizes; só não somos porque lutamos contra a felicidade e a integração.

 

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