O Ambiente Ritual

 

No livro “O Mais Elevado Estado da Consciência”, Krippner, Huxley, Myers, Ouspensky, e outros falam sobre êxtase, eac, samadhi, etc. Extrai de alguns deles trechos sobre rituais :

Os ritos selvagens e os estados mentais que beiram a loucura têm representado um papel predominante em cada religião do mundo.

Num estado de êxtase, alcançado através de rituais premeditados ou de longos períodos de abnegação e contemplação, os devotos vivenciam elevados estados de consciência e de unidade com seus deuses. Indubitavelmente, algumas das experiências religiosas mais primitivas do ser humano, em especial os ritos e as danças de fertilidade, provocavam experiências extáticas entre alguns membros da tribo ou da comunidade.

A maioria seria excitada pela dança e pelos ritmos, mas os sacerdotes ou as sacerdotisas de tais ritos podiam reagir ao poder engendrado entrando em transes, durante os quais experimentavam visões extáticas.

Havia também a flagelação ritual, utilizada por algumas seitas, para se obter experiência extáticas. A flagelação voluntária, como uma forma de devoção exaltada ou extática, ocorre em quase todas as religiões.

A dança, a música, as palmas, o canto, o traje, a presença de um público expectador e participante, um ambiente ritual num lugar e hora adequados – tais são, de maneira ideal, os elementos apropriados para provocar tanto a indução da dissociação quanto os resultados terapêuticos do ritual. A expectativa e a sugestão são, obviamente, de grande importância para se obter esses resultados. A música, com sua frequência e intensidade crescentes, facilita o movimento rítmico e ela própria tem um efeito psicológico claro : pode ajudar a libertar o dançarino de parte de suas responsabilidade pelos seus movimentos e ações.

Os estados de dissociação ritualizados, formalizados, encontram-se em todo o mundo, recebem uma grande variedade de interpretações culturais e estão incrustados em instituições, costumes, tradições e práticas muito diferentes, em sua grande maioria de natureza religiosa. A distribuição bastante ampla desses estados entre os povos do mundo pode sugerir que são muito antigos.

Todas as sociedades tem seus rituais, tais como os dos festivais sazonais, os rituais de nascimento, de casamento e de morte, e os rituais que comemoram e reatualizam eventos originais, carregados de poder espiritual, dos quais dependem os grupos social e religioso. Por exemplo, a festa da Páscoa dos judeus relembra o jantar original do cordeiro pascal, na noite em que os primogênitos dos egípcios e seu gado foram destruídos, após a qual os judeus deram início à sua jornada, agora livres da escravidão no Egito. A celebração cristã da Eucaristia comemora a última ceia de Jesus com seus discípulos, que, aliás, também era um jantar de Páscoa judaica.

Uma das característica geral de todos esses rituais reside no fato de que eles são intensamente conservadores. Para funcionarem adequadamente, supõe-se que devam ser executados da maneira correta e habitual.

Em muitas partes do mundo, a própria linguagem do ritual é arcaica, preservando a forma tradicional das palavras que se acredita serem necessárias para sua eficácia. A liturgia da Igreja Copta, no Egito, é ainda feita nessa antiga língua egípcia; os rituais bramânicos da Índia são realizados em sânscrito.

Em virtude dessa participação ritual, o passado torna-se presente. Os participantes são ligados a todos aqueles que já partiram aos ancestrais, e finalmente ao momento da criação primordial que o ritual comemora. Os participantes são ligados a todos aqueles que já partiram – aos ancestrais, e finalmente ao momento da criação primordial que o ritual comemora.

Mircea Eliade escreveu que um ritual não é uma mera repetição de um ritual celebrado antes dele (ou qual, por sua vez, é repetição de um arquétipo), mas está vinculado a ele e é continuação dele, seja em períodos fixados seja de outra maneira.

O ritual pode realmente trazer o passado para o presente. Os atuais oficiantes do ritual se ligam, na verdade, com aqueles do passado. Quanto maior for a semelhança entre a maneira como o ritual é executado agora e a maneira como foi executado antes, tanto mais intensa será a conexão ressonante entre os participantes do passado e do presente.

 

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