Paricá – Virola
VIROLA (Virola Calophylla) – PARICÁ (Piptadenia / Anandathera Peregrina)
Utilizados em pó como rapé. Vem das sementes leguminosas (paricá) ou das cascas do tronco (virola). Utilizado pelos índios brasileiros, as plantas são aspiradas através de tubos, pelas narinas.
Paricá
Há varios nomes para o Paricá : niopo, nupa, yopo, cohoba, niopa, nopa, yopa, jopa, yupa, curupa, niopa, cogioba, cohiba, coíba, kurupaiara, cebil, cevil, mori, hataj, hisioma, kakoímes, curuva, . Outros do Brasil : angico, angico-branco, angico-do-campo, angico-roxo, angico-vermelho, arapiraca, cambuí-angico, curupaí, paricá-de-curtume, paricá-de-terra-firme, tiborana e outros.
Ela é de uso restrito ao xamã/pajé, que a aspira e cai em transe, entrando em comunicação com os espíritos. Então ele fica com plenos poderes para desempenhar seu papel de adivinho, curador e conselheiro. Dizem que dá grande resistência física, e visões. Diminui a sensação de fome, sede.
è uma árvore perene do gênero uma árvore do género Anadenanthera para o Caribe e América do Sul. Ela cresce até 20 metros altura, com uma casca espinhosa. Suas flores são brancas e amarelo pálido ao esférico .Trata – se de uma enteogeno utilizado na cura e cerimônias rituais. Contém bufoteína, uma triptamina que está relacionada com o neurotransmissor serotonina. Esse alcalóide é encontrado na pele de alguns sapos (kampun)
Sangirardi Jr : O Pó sagrado dos Feiticeiros
“Massaricado nos instantes de fome, evoca Jurupari. O marido, desconfiado de que a mulher o traia, que tinha um amante, recorre às virtudes do paricá. “Aquele companheiro dela era uim pouco pajé, cheirou paricá, viu logo como sua mulher lhe fazia…”Esta lenda evidencia o caráter mágico e divinatório do paricá, restrito aos poderes do pajé, o xamã, o homem medicina.
É uma cena comum, no consumo ritual das drogas hierobotânicas. O pajé está sentado ou de cócoras, com toda a sua parafernália miraculosa. Diante dele está o enfermo, o desventurado ou o aflito.
Então o xamã absorve a substância prodigiosa, cai em transe e entra em comunhão com os espíri8tos. Agora está com plenos poderes para desempenhar seu papel de adivinho, médico e conselheiro. Profetiza, adverte, receita, orienta. Descobre a origem das influências maléficas e arregimenta as forças necessárias para combatê-las.
Entre os waikás do Alto orenoco, a Piptadenia (hisioma) é planta sagrada, ligada a dois espíritos que a criaram em tempos remotos. Segundo o Padre Pane, os índios que absorviam cohoba viam os companheiros caminhando no ar e, após despertarem, contavam tudo o que lhes haviam revelado os Cemi ou Grandes Espíritos.
Entre os índios karimés, o paricá é denominado kokoíme. E kokoíme é também o nome do Grande Espírito da Montanha, que vive nessa planta. Basta que se aspire o rapé, para receber uma parcela desse espírito e suas forças excepcionais. Durante o consumo cerimonial dos kokoíme, o médico feiticeiro conversa com os espíritos.
Os índios Kaxuiâna, trico xaribe do Rio Trombetas, consideram sagrado o pó de pariá, que consomem durante um longo e complicado ritual: a festa do mori absorveu todas as doenças e malefícios, sendo por isso atirada na mata, despachada; ; a outra parte está impregnada de mana, de qualidades purificadoras e fortificadoras, e é consumida durante a cerimônia.
Com mori, a tribo entra em comunicação com o uoroquiemã de cada índio ( espíritos animais, personificação das forças da natureza).
Finalmente, num recesso da mata, os xamãs consultam Utaré, o Grande Espírito dos Kaxuiânas, chefe de todos os pajé. Mas Trarére não fala diretamente com a voz humana, fala pelas linguagem das flautas sagradas, que só os pajés (piádzes) entendem.
Há tribos que usam o rapé paricá puro, o que é, no entanto, bastante raro. O Universal é usarem um ou mais aditivos, os quais são idênticos ao da coca: cochas trituradas de caramujos hidrófilos, farinha de mandioca e, ainda, outras como o tabasco e a ayahuasca, caapi ou yajé.
Abaixo, parte da entrevista da antropóloga Beatriz Labate (B) com o antropólogo Anthony Henman (A) :
B: O que é o paricá? Quais são as evidências de que ele era consumido junto ao São
Pedro?
– A: O paricá é um pó preparado a partir das sementes da Anadenanthera peregrina, uma árvore muito comum na selva, que cresce dos Andes até São Paulo. Essa semente contém dimetiltriptamina, o mesmo princípio ativo da ayahuasca (Banisteriopsis caapi + Psychotria viridis). Quando você toma o São Pedro e adiciona o paricá, faz com o que a viagem, que até aí teria sido mescalínica ou seja, sem grandes voos visuais provoque uma alteração pronunciada no campo visual. Esse efeito do paricá dura de meia a uma hora no máximo.
Provavelmente nesse momento as pessoas eram colocadas diante da imagem felínica. Essa tese se apoia na existência, em Chavín, de uma série de cabeças incrustadas nas paredes da pirâmide, em vários estágios de transformação: desde um humano totalmente humano até um felino totalmente dragão. A metamorfose, como mostraram alguns pesquisadores,está claramente associada com o inchaço do nariz. Portanto, a minha interpretação é de que, ao adicionar o *paricá* que é cheirado, produzia-se uma transformação felínica, uma verdadeira encarnação do espírito tutelar do culto. Há também muitas evidências do uso conjunto das duas substâncias [São Pedro e paricá] em outras culturas que apareceram depois, no Horizonte Médio do Peru, entre os Mochica, os Nasca e os Wari.
– B: Mas o paricá e o São Pedro nem sempre são consumidos em conjunto…
– A: É verdade. As tabletas de paricá, espécie de bandejinhas para cheirar o pó, também foram amplamente distribuídas em épocas pré-hispânicas no sul andino, até o norte do Chile o norte da Argentina. Aí não se sabe ao certo se as pessoas usavam o cacto também é difícil precisar se as duas plantas sempre foram associadas ou se, em alguns casos, eram usadas separadamente. No caso amazônico, é claro que o paricá foi usado sem São Pedro,numa extensa área que incluía parte do Brasil. Mas as evidências de Chavín me estimularam a fazer experiências comigo mesmo e com pelo menos vinte pessoas sob minha orientação.Todos parecem concordar em que o efeito combinado de São Pedro e paricá é mais interessante, levando a espaços mais insólitos do que aqueles provocados por cada uma
das substâncias separadamente.
– B: Existem evidências históricas de que os incas utilizavam a wachuma? Este tipo de idéia parece ser moeda corrente entre grupos esotéricos contemporâneos.
– A: Não há absolutamente nenhuma evidência histórica nesse sentido, assim como não há provas arqueológicas, nem etnográficas, de que os incas consumissem a ayahuasca. Há certeza, sim, de que usavam folhas de coca e que consumiam as sementes de paricá moídas, misturadas na chicha (bebida de milho fermentado).
Virola
Outros nomes: iàquí, hacudufa, epená, nyakuana, yaca, yala, yato. Os tucanos chamam a virola de paricá.
Arvore nativa da Colômbia, peru, Sul da Venezuela e noroeste da Amazônia brasileira. A resina avermelhada que escorre da casca, quando sua casca é arrancada, contém, entre seus princípios ativos, alta concentrações de triptaminas, principalmente a DMT, além de miristicina, óleo também encontrado na noz moscada.
Depois de extraída, coada e fervida, durante horas, a resina é transformada numa pasta que é colocada para secar, sendo em seguida pulverizada até se obter uma espécie de rapé, ao qual são misturadas cinzas vegetais. Entre os índios da Amazônia, este rapé é de uso exclusivo do feiticeiro ou xamã, que consome a droga em rituais mágicos, aspirando-a a través de um tubo. Ao ingerir o pó, o xamã mergulha num sono profundo e agitado, repleto de visões e sonhos, acompanhados por gritos e murmúrios, enquanto as mensagens dos espíritos são cuidadosamente anotadas por um assistente que o acompanha em seu transe.
Transcrevo abaixo trechos do livro O Círculo dos Fogos – Feitios e ditos dos indios Yanomami, do antropólogo *Jacques Lizot* :
“…Rikomi vascula a floresta procurando a casca da arvore Virola Elongata. Seca a casca e reduz a pó fino, que , que é despejado num longo tubo fino, fechado hermeticamente com pele de sapo.
…Eis que os xamãs avançam , com seus tubos para inalação. Colocam os pós mágicos num pote de cerâmica. Turaewê dá o sinal para a inalação. Seis vezes o caroço oblongo fixado na extremidade do tubo com resina é introduzido nas narinas de Rikomi e lá espalha a sua semente mágica. depois é a vez dos xamãs.
Então é preciso afastar as mulheres e crianças que ficavam por ali: as mulheres, por causa do odor vaginal que exalam, e que não agrada os hekura (espíritos de planta ou animal, seres sobrenaturais), as crianças, porque não poderão suportar as forças que irão se manifestar. Após um longo silêncio em que se concentrava buscando sua inspiração, Turaewe
– Espírito Lua ! Espírito do remoinho das águas ! Espírito do urubú ! Desçam em mim !
Segundo Sangirardi Jr.: ” Como acontece com os rapés oriundo da Pitadenia, os oriundos da virola também são de uso ritual exclusivo do médico-feiticeiro. este cai num sono profundo e inquieto, povoado de visões e sonhos reveladores.
Enquanto dorme, o xamã murmura, grita sons divinatórios atentamente observados por um acólito, que está ali para interpretar a mensagem dos espíritos.
Koch-Grunberg descreve um xamã dos índios Yekwana, do rio Ventuari, afluente do Orenoco, na Venezuela. ele foi preso de violenta excitação, começou a cantar e gritar selvagemente e, durante todo o tempo, seu corpo oscilava para frente e para trás.
Absorvendo o rapé pelas narinas o xamã absorve o espírito da planta e se integra no mundo mágico.
Tubos Inaladores
Em suas prises de paricá ou virola, os índios não usam os dedos para levar a pitada de pó nas narinas, como fazem os brancos com o rapé: utilizam sempre um tubo inalador.
Salvo raríssima exceções, os tubos de inalação são feitos de ossos ocos, formam um ângulo do tarso de um ave pernalta. O rapé é consumido de sua formas diferentes :
* através de aspiração nasal
* introduzido nas fossas nasais mediante ao sopro de terceiro.
As variações de uso dependem principalmente da forma do tubo inalador em *Y*, em *V* em *X* ou formando um duto único em reta.