Trajes e Mascaras

 

O simbolismo por trás dos trajes, representa a saída do mundo material para a entrada no mundo espiritual. Os trajes cerimoniais se fazem presentes em todas as religiões: a batina do padre, a paramentação dos orixás, os mantos dos magos e sacerdotes, o branco, as peles de animais, as fardas e etc.
O mesmo acontece com penas, cocares , que simbolizam também a iniciação.

Os trajes representam um microcosmo espiritual que se distingue do espaço profano em volta. Está impregnado, através da consagração de forças espirituais. É como se adquirisse um novo corpo.
As máscaras encarnam poderes sobrenaturais, dando um meio ao homem para se aproximar de forças divinas.

O significado das pinturas variam muito de cultura para cultura. É uma expressão religiosa, espiritual. Algumas crenças dizem que é para o índio ser reconhecido no paraíso. Outras para caracterizarem rituais de passagem, da adolescência, status na tribo. Existiam também pinturas para a guerra (para desencorajar inimigos), para cerimônias (para expressar seus espíritos) para a auto-expressão (de acordo com a visão de sí mesmo ) para luto, festas, etc.

 

A DANÇA DOS MASCARADOS – Rosane Volpatto

A máscara é encontrada em diferentes culturas e acredita-se que foi uma evolução das primeiras pinturas e tatuagens que os índios usavam em suas caçadas. Posteriormente, eles se utilizaram da cabeça do animal como camuflagem, permitindo-lhes uma maior aproximação da caça e assim poderiam abatê-la com sucesso. Em seguida, passaram a fazer parte de cerimônias religiosas como símbolos mágicos. Para a maioria dos povos as máscaras simbolizavam seres da natureza, deidades, o reino dos mortos e animal ancestral.

A Dança dos Mascarados era costume muito antigo entre os índios da América do Norte, mas elas também foram encontradas entre tribos que habitam às margens do rio Xingu.

Estas danças de máscaras são para a etnologia de interesse particular pelas analogias, que, quanto a forma das máscaras e outros usos festivos, há entre estes e as danças dos indígenas de Milanesia. É tanta a semelhança que a descrição das danças de máscaras destes, podia-se aplicar às danças dos índios brasileiros Carajás do rio Araguaia. As máscaras por eles criadas todas representam animais, mas não são imitação plástica do animal, como os índios da América do Norte e as Tucunas (praticamente extintos) na região do Acre, sendo que por exemplo, a ave que se representa é apenas indicada por uma propriedade, um ornamento ou uma pluma.

As danças eram acompanhadas de cantigas, cujo conteúdo era o louvor das proezas da guerra e de caça tanto dos indivíduos como da tribo e os mascarados imitavam as vozes dos animais que representavam. Estas máscaras não tem nada ver com culto e estas festas não parecem ter outra origem, senão de aproveitar a ocasião para celebrar uma boa colheita ou caça.

Entre os Carajás, existiu dois tipos de máscaras. Todas elas eram confeccionadas com palha de palmeira, umas são vestidos inteiros com uma espécie de capuz. Este é um cone que se eleva acima da máscara que representa o falcão caracará. A outra, seria um chapéu cilíndrico coberto por um mosaico e lindas penas que indicam a ave representada. Cada aldeia tinha máscaras próprias.

No tempo que antecedia estes festivais, se iniciavam os preparativos: as mulheres cuidavam da comida e bebida  e os homens ocupavam-se na caça ou fazendo o vestido das danças. Os cânticos entoados eram muito antigos e a cada animal era reservado um tom.

Mulheres e crianças podiam assistir às danças, mas não poderiam entrar na casa das máscaras, ou vê-las separadas do mascarado, para inculcar-lhes a crença que os espíritos das aves estariam presentes na máscara. Este era o motivo do porque deveria ficar oculto e desconhecido o mascarado.

Sobre a significação destas danças e sobre os animais escolhidos, não existe explicação certa. Talvez pelo amor que o indígena sentia por todos os animais, os reverenciassem desta forma. O sentimento de visível parentesco com o reino animal, que se manifesta nos mitos e lendas também é um traço característico da alma do índio. Eles hábeis em domesticar animais selvagens. Conta-se que existia aldeias, que mais pareciam um jardim zoológico em que a avefauna predominava. As aves maiores, mais vistosas e de colorido mais belo, lá figuram e contribuem fornecendo plumas ornamentais. As araras tal qual guardas, estão sempre alertas e passeiam pelos telhados, anunciando com seus gritos o estrangeiro.

Teve-se notícia que outras tribos que habitavam às margens do rio Pururús, afluente do Solimões existiu cerimônias com danças de animais e aves, porém não eram usadas máscaras. Entre os Bakairí foram vistas máscaras de aves com toscos de rostos humanos, feitas de madeira (entalhada) e também de pano. Estes têm parte de rostos colados de cera, com fronte e nariz saliente.

Havia também máscara que eram imitações de animais ou aves representadas. Quando se vestiam de “gala”, traziam os Baikaikí sobre a cabeça figura de aves feitas de madeira e de palha de milho.

Como os índios, que receberam com festas o descobrimento da América, representaram aves descreve-nos o autor do magnífico poema “Colombo”, no canto 291:

“Eis matizados grupos

De ligeiros donzéis, vestidos de aves!

Frontes ornadas de compridos bicos.

Braços cobertos de brilhantes penas.

No remigio imitando as várias aves

Dando saltos e pulos desmedidos.”

 

O nosso índio, passou da máscara à mordaça e hoje encontra-se preso aos grilhões da miséria.

Uma tribo, os hopi do Arizona, celebravam um ritual com máscaras, onde elas representavam seus ancestrais e seus deuses. Deste modo, parentes falecidos vinham até eles, só que em forma de espíritos chamados de “Kachinas” e as máscaras também possuíam este nome.

Outros povos primitivos já usavam máscaras para assustar o inimigo. E, muitos outros, acreditavam que a máscara encarnava um espírito e era tratada como tal.

Existiram também máscara fúnebres ou de morte, importantíssimas e muito usadas entre os egípcios. Muitos povos, ainda hoje, usam-nas em cerimônias associadas à morte. Na Nova Irlanda, dançarinos se utilizam de máscaras para invocar pessoas mortas e acreditam que durante a cerimônia seus espíritos se fazem presentes.

Na África, a instituição das máscaras era utilizada nos rituais agrários, iniciáticos e funerários.

As máscaras, como os rituais, são reflexos de nosso subconsciente humano e têm o poder de alcançar a base do que somos feitos. Tendemos a ver a máscara, somente como um disfarce, mas o certo é que ela vai mais longe, pois nesta tentativa, adquirimos uma nova energia e nos transformarmos em algo mais.

Uma máscara conecta o seu portador com a energia  do arquétipo que reside dentro do inconsciente coletivo. A máscara seria uma mediadora entre o “ego” e o “arquétipo”, o “mundano” e o “sobrenatural”, o “sagrado” e o cômico”. Conecta, também, o presente com o passado e o indivíduo com o coletivo.

Com o uso das máscaras, damos forma a nossos sonhos, medos e fantasias. Trabalhando com elas, construímos pontes dimensionais, estendemos nossos limites e reconhecendo através dos espíritos exteriores os que habitam em nosso interior. Dando forma ao desconhecido, estamos retratando nossos medos, possibilitando assim, um maior aprendizado sobre nossas emoções.

Tribos indígenas dos Andes, tem o costume de cobrir seus mortos com uma máscara, para que eles estejam protegidos dos olhares de espíritos maléficos.

Há muitas histórias também, sobre a beleza oculta por máscara. O Fantasma da Ópera e a A Bela e a Besta, são exemplos bem conhecidos. Em ambos os casos,  o herói sofre de uma deformação externa. Por isso, o Fantasma se oculta nos túneis subterrâneos de Paris e a Besta encontra-se reclusa em seu castelo de proibições. A beleza da alma destes personagens somente será visível através de um verdadeiro amor.

 

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