A Linguagem e a Torre
Em uma análise psicanalítica sobre a carta da Torre, no Tarot, baseado no livro de autoria desconhecida, mas chamado “Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô”, editado pelas Edições Paulinas, mostra-se que foi pela vontade que o pecado original se verificou e causou a queda (Adão e Eva). Em Gênesis, o pecado é descrito como o desejo de arrojar-se ao conhecimento do bem e do mal, de se tornar “como deuses”. E vai além da primeira etapa – a queda, apontando outras três etapas anteriores e não menos importantes: o fratricídio de Caim, a geração dos Gigantes (os Grandes Soberanos) e a construção da Torre de Babel.
No fundo do fratricídio de Caim se encontra a revolta do “eu inferior” contra o “Si mesmo verdadeiro”, da semelhança decaída contra a imagem intacta. No fundo da geração dos gigantes encontra-se o casamento do “eu inferior” com as entidades hierárquicas decaídas, em lugar do casamento com o “Si mesmo verdadeiro”. E no fundo da construção da torre de Babel se situa a vontade coletiva dos “eus inferiores” de terminar a substituição do “Si mesmo verdadeiro” das hierarquias celestes e de Deus por superestrutura de alcance universal feita por eles.
A revolta, a posse e a colocação do fabricado em lugar do revelado – a esses três pecados correspondem três quedas ou três efeitos: o fato de Caim matar seu irmão Abel e tornar-se exilado – errante; a geração dos gigantes foi seguida do Dilúvio; a edificação da torre de Babel teve como consequência o raio da “descida do Eterno”, que dispersou dali os construtores por toda a face da terra e confundiu sua linguagem, a fim de que uns não entendessem mais a língua dos outros.
Portanto, a Torre ensina uma lei geral e universal: aquele que se revolta contra seu “Si mesmo superior”, ao ponto de se tornar possesso, sucumbirá!
Aquele que constrói uma torre para substituir a revelação do Céu por aquilo que ele mesmo fabricou, será atingido pelo raio. Vale dizer que passará pela humilhação de ser reduzido à sua subjetividade e a realidade terrestre.
No *Evangelho de Lucas* podemos entender essa lei: “Todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11).
No *Evangelho de Marcos*: “O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente na terra: ele dorme e acorda de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba como” (Mc 4,26-28).
A torre é uma advertência para todos os autores de sistemas que dão papel importante à mecanicidade, ou seja, sistemas intelectuais, práticos, ocultos, espirituais, políticos, sociais e outros. Ela convida a se empenharem nos trabalhos de crescimento, em lugar da construção. Nos trabalhos de “cultivadores e guardas do jardim”, em lugar de construtores da Torre de Babel.