Entrevistas – Marilu Martinelli

 

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS

Entrevista feita em 2oo8

*Léo*:

Como foi essa transição de atriz para consultora?

*Marilu*:

Eu larguei a carreira há 25 anos

Na verdade eu tive que deixar a minha carreira de atriz. Não tive outra alternativa porque meu pai tinha um laboratório de produtos farmacêuticos. Era um laboratório de família, uma indústria de família . Com a morte de minha mãe, ele dividiu as ações e, desta forma, eu não poderia me furtar a conhecer isso. Era o trabalho dele, a vida que ele estava compartilhando. Eu não entendia absolutamente nada e tive que fazer uma opção.

Não foi muito fácil de ser feita porque eu larguei a minha carreira no auge, mas foi necessário. A vida nos apresenta opções para que escolhamos o que, pelo menos naquele momento, era prioritário.

Eu fiz uma análise e vi que iria mudar muito a minha vida. Como a beleza é muito importante para mim e a beleza que me refiro é o lado belo, a estética do bem, a criatividade, então na indústria eu procurei fazer isso. E aí, depois por morte do meu pai, eu e o meu irmão, resolvemos vender a indústria. Era um laboratório grande, 100% nacional e sofria pressões violentas de multinacionais. Então ou você dava um grande salto fazendo um joint venture com uma grande multinacional, como vários fizeram,  ou você vende. E meu pai um pouco antes de morrer nos aconselhou a vender. Quando ele faleceu eu e o meu irmão vendemos. Nesse ínterim eu trabalhei, sou atriz, mas jornalista de formação.

Leo – Você trabalhou numa das mais famosas novelas, de maior sucesso da TV brasileira, o Beto Rockefeller.?

Marilu – Sim foi a primeira novela

Leo – E foi jurada do Silvio Santos também …

Marilu – Fui, eu era a doce e bela pernambucana do Silvio Santos (risos)…

Leo – E quebrava muitos corações (risos). Não é Marilu?

Marilu – Mais isso foi muito bom para ele e para mim. Ele queria ao mesmo tempo uma pessoa que não fizesse tipo. Mas que fosse uma faixa que interessasse a ele . Dos consumidores, dos telespectadores. E para mim também foi muito bom. Ele era popularíssimo naquela época, estava realmente no seu apogeu. E pra mim na carreira de atriz, foi formidável.

Leo – Foi bom para todos que assistiam também, para seus fãs. (risos)

Marilu – É possível!

É uma coisa muito bonita mesmo, porque até hoje as pessoas me reconhecem e pedem para voltar. Este tipo de coisa!

Leo – Já te deu uma coceirinha para voltar?

Marilu – Eu já pensei, viu Léo! Mas em outros termos…como novela, não mais.

Eu voltaria num tipo de programa que trouxesse como tema central o que eu faço hoje em dia, que é a Espiritualidade e Educação.

Há 22 anos eu tive meu encontro com Satya Say Baba.

Leo – Você pode falar mais sobre esse encontro?

Marilu – Claro, evidente! Porque foi o momento mais importante da minha vida. Foi um divisor de águas. Porque eu sequer sabia que ele existia. E eu tive a graça de ter um contato com ele aqui no meu quarto. Eu nem sequer sabia quem era. Meu irmão tinha ido com o Professor Hermógenes e um grupo de pessoas  à Índia e tinha conhecido ele. E veio falando muito e tal eu tinha uma certa antipatia, porque meu irmão ficou muito impressionado e exteriorizando muito. E eu já tinha uma certa resistência, porque, você sabe, que lá pelos anos 60/70 houve um namoro irresponsável do ocidente com o oriente e daí resultou desastres.

Daí tive esse encontro transcendental com Say Baba e nesse encontro ele disse a mim que minha missão era com a educação. Bom eu fiquei profundamente mexida  e daí em diante tomei conhecimento da proposta de educação que é a Educação em Valores Humanos, que hoje é adotada em mais de 170 países .

É uma proposta revolucionária, que contempla as dimensões materiais e espirituais do ser humano. Então significa, além do desenvolvimento integral e integrado do potencial humano significa que você abre portais de criatividade e considera aquilo que é real e as pessoas insistem em ver como mágico que é a dimensão espiritual . É natural, nós temos duas sedes . A sede de sobrevivência e a sede de transcendência . Disso você não foge. Então, à partir daí eu tomei conhecimento dessa proposta, me aprofundei nela realmente e vim pra cá, pro Brasil e aqui eu comecei um trabalho de Educação em Valores Humanos. Há 15 anos trás

Atualmente é a minha vida. Faço esse trabalho de  Educação em Valores Humanos, Formação e Capacitação de Professores, para várias Secretarias da Educação do Brasil inteiro. Tenho quatro livros publicados, 3 deles sobre educação e para a minha alegria eles tem sido adotados por várias delegacias de ensino. Foram também traduzidos para o espanhol.

Então é esse o meu trabalho. Além de fazer formação de professores, lideranças, multiplicadores das empresas, agentes de transformação.

Nós formamos formadores…Entendeu?

E isso para as empresas eu chamo : Botando o Amor Para Trabalhar  Liderança em Valores Humanos.

Houve uma época em que as empresas e as lideranças  tinham um velho paradigma: Quando entrar por esta porta, esqueça-se de todos os seus problemas? Como você vê isso atualmente?

Isso é absurdo, porque na verdade você dividia o homem como se ele entrando pela porta de sua empresa não fosse a mesma pessoa, ele era alguém montado todo de acordo com a sua vontade e proposição. Isso é um absurdo. Isso hoje não existe! Hoje a proposta é exatamente o oposto. Veja que até pela dificuldade de locomoção, e as facilidades de comunicação, muita gente hoje trabalha em casa.

É a tendência! E as empresas estão procurando fazer com que seus funcionários se sintam o mais em casa possível. Chegam até a pedir às mães que levem seus nenês, nos moisés enquanto trabalham. Outras dizem que levem seus bichinhos de estimação. Enfim, é toda uma proposta de integrar . Exatamente o oposto de como era antes.

Leo – Agora é o momento de a empresa assumir a responsabilidade social com seu empregado e seus parceiros. Preocupar-se mais com o próprio bem- estar e etc.

Marilu – Evidente! E depois tem o seguinte: hoje você tem uma massa crítica significativamente importante de consumidores e se  você não investir em valores de sua empresa, em comprometimento social, em comprometimento planetário, você irá perder clientes.

Então você teve um salto de qualidade, de conscientização. Na  verdade um número cada vez maior de empresas está apostando nisso. No Lazer criativo, na formação e capacitação de seus funcionários em desenvolvimento humano . Porque veja bem; se você capacita o seu funcionário apenas para que ele encontre estratégias para o trabalho, em sua empresa, você faz com que ele tenha uma quantidade enorme de cursos, que acaba sendo uma carga para ele. Aí quando chega na hora dele colocar em prática, consigo mesmo, como pessoa, ele não se transformou e aquilo vira um fardo. Ele fica com um monte de informação e não consegue fazer um projeto, condizente com as informações que ele recebeu.

Então, o que a gente faz é a proposta do desenvolvimento, que é você pegar o conhecimento e trazer do nariz para baixo, ou seja, ancorar no coração, despertar a inteligência do coração. Porque despertar do nariz para cima, vira um conhecimento apenas intelectual e você vira alguém, que pode ser até uma biblioteca ambulante, mas você não fez nada para si mesmo.

Então se você pretende desenvolver um pensamento,  que me parece que é  um consenso mundial de uma ética e de uma estética do bem, do belo e do verdadeiro. Isso parte pela nossa transformação pessoal. Já dizia Gandhi: Se você quer transformar o mundo, transforme-se primeiro.

A Mudança da consciência individual

Evidente!

Para chegar na consciência coletiva

Sem Dúvida!

É que nos estamos, sem dúvida, vivendo um momento extraordinário, estamos dando um salto quântico, um salto de qualidade realmente no planeta, nas pessoas…isso não tenho dúvidas.

Leo – Você pode até dizer assim: Mas como? Nunca vi tanta violência! Nunca vi tantos desacertos!

Marilu – Realmente o século passado, foi o mais violento que a história já viveu, mas eu acho que nós estamos agora num momento diferenciado. É a hora de botar a sujeira para fora do tapete. A gente ficou botando tudo debaixo do tapete, formou um montículo e ali a gente tropeçou e caiu de cara no chão. Agora nós estamos recolhendo esses pedaços e estamos varrendo mesmo com um grande aspirador de um novo modelo de consciência que eu acredito que vai gerar  uma nova forma de relacionamento urbano. Você pode dizer: Mas são muitos os paradoxos! São! E isso é sinal de que um paradigma está morrendo. Porque nada como paradoxo ara evidenciar a morte de um paradigma. O Nascimento de algo novo.

Leo – Como se consegue numa empresa separar a religião da espiritualidade com toda a quantidade de sistemas de crenças que existem atualmente?

Marilu – Eu quero dizer, Léo, que não são só as empresas que vão mudar, embora tenham aqueles, que são os surfistas das ondas do medo, os que desenvolvem os pensamentos preconceituosos, separatistas. Mas a grande maioria está buscando a unidade na diversidade. Mesmo as pessoas na rua, nunca houve tanto relacionamento inter-racial, inter-religioso e cultural! Então eu acredito que a busca hoje é pelo encontro e não pelo confronto. Então as pessoas precisam saber que na religião há vários caminhos. E dentre eles, culturalmente, a mesma mensagem foi traduzida  e você escolhe aquele que para você é mais afim. Agora todas elas nasceram aonde? No mesmo lugar. Todas nasceram no oriente. As 3 mais conhecidas eu diria assim. Nós tivemos a notícia de que agora o Islam está maior do que o cristianismo. O Islam, o Cristianismo e o Judaísmo. As três religiões mais urbanas, sedentárias e  monoteístas que nos afastaram muito da natureza. Essas três religiões trouxeram realmente através de seus mitos, em específico, o cristianismo que incorporou o mito judaico, que por sua vez era caldeu.  O Gênesis trouxe o mito de Adão de Eva, que a meu ver, foi para nós uma leitura terrível. A leitura de que Adão e Eva pecaram, por exemplo, faz com que a vida não seja sagrada.

Leo – Inibe a busca pelo conhecimento…

Marilu – É ainda pior! Além de ser proibido o conhecimento, você peca por que  busca o conhecimento e por que obedece. O pior é que é expulso do paraíso.  Ora se você é expulso do Paraíso, não tem mais compromisso com ele. Que paraíso era esse? É o nosso Planeta. E Fez de nós predadores.

Leo – É que na realidade as religiões sempre se preocuparam com o mundo após a nossa morte. Então este pode ser detonado…

Marilu – Exatamente! No momento em que você dessacraliza a vida e é expulso do Paraíso, então o que é que está fazendo aqui? Tirando proveito! Então o que é que aconteceu?

Você vai dizer é apenas um mito religioso! É um mito religioso, mas que paira no inconsciente coletivo e vibra porque o mito, os sinais e signos são a linguagem do nosso inconsciente. E somos teleguiados pelo nosso inconsciente mesmo.

Então eu acho que para nós ocidentais isso teve um efeito louco. Nós além de termos virado predadores, usufruímos tanto da vida, tiramos tanto dela que a empobrecemos. Então nós ficamos desencantados. Tudo bem você apostou que sua proposta de vida é pensar de manhã e de noite em formas de ganhar dinheiro. Não vou dizer que não seja bom. É bom ! O dinheiro é um valor não intrínseco é um valor que você criou, que nós humanos criamos, mas é um valor.

Leo – Nas empresas a grandes finalidade é o lucro.

Marilu – Sim, mas lucro não precisa significar logro. Há uma diferença muito tênue entre logro e lucro. Agora você me fez lembrar uma grande mulher que foi Hildegard Von  Bingen (1098-1179) . Foi uma freira cientista, antropóloga, poetiza, musicista…uma mulher extraordinária e quando ela soube que o Vaticano ia criar o  Banco do Vaticano ela escreveu uma carta lapidar, onde ela diz ao Papa que tome cuidado pois a diferença entre lucro e logro é muito tênue.

Então a empresa forma grupo de homens e mulheres por um consenso de pensamento criado a cada dia e se você descobre que as religiões são caminhos que andam na mesma direção cuja meta é a espiritualidade e se você começa a perceber que a espiritualidade é inerente a condição humana…ai você começa a procurar o encontro e não o confronto.

Você pode dizer assim: por que as religiões ficaram tão importantes? Elas sempre foram! Importantíssimas na história da humanidade. Tenha maior ou menor número de adeptos…não importa.

Leo – As religiões de certa forma, orientam um sistema de ética e valores…Por mínimo que seja.

Marilu – Não só isso! Em nome delas nós tivemos transformações terríveis, inclusive atos abomináveis na história do homem. Cruzadas, inquisição…e agora estamos vendo aí em nome da religião,

Leo – A China por exemplo com o Tibet…

Marilu – É…no mundo inteiro em nome das religiões se formam zonas de atritos,  fogueiras se acendendo ora ali ora aqui, o Oriente Médio nos dando constantes sustos…Mas os problemas não são as religiões…. as religiões não podem ser escudos que as pessoas usam para os seus atos egoístas, ambiciosos, gananciosos

Leo – O grande desafio é saber lidar com as diferenças

Marilu – É isso é evidente…se você não sabe lidar com as diferenças dos outros isso significa que não sabe lidar consigo mesmo. A projeção da sua sombra. É a projeção de tudo aquilo que você vê nele e não vê em si mesmo.

Leo – É mais fácil malhar o outro do que a si próprio

Marilu – Claro! Haja vista a malhação de Judas (risos) Quando a gente sabe que não foi nada disso.

Leo –  Outra coisa Marilú, como se chega a uma empresa oferecendo espiritualidade?

Marilu – Não se oferece espiritualidade! Oferece-se uma ética diferenciada. Porque qual é a grande diferença da ética sem a espiritualidade para a ética com espiritualidade? A ética dissociada da espiritualidade é um código de conduta, de fora para dentro, que você tem que obedecer. A ética com espiritualidade é um despertar de consciência. E esse despertar vai te levar a um processo de assimilação dos valores que lhe são inerentes, os valores humanos que se enraízam aonde? Nos valores espirituais eternos! Que é o lugar comum, o denominador comum a todas as filosofias, crenças, culturas, seitas e todas as religiões no mundo.

A verdade, a retidão, a paz, o amor e a não-violência. São cinco valores universais, permanentes, imutáveis. E deles, resultam os valores humanos. Então a grande diferença de você hoje, por exemplo,  chegar a uma empresa oferecendo: Valores Eternos em tempos Modernos  como produto a ser oferecido ou  a conscientização destes valores éticos espirituais que vão resultar numa criatividade maior, num companheirismo maior, numa produtividade verdadeira, porque o companheirismo vai acontecer naturalmente. Não é por que eu fiz um workshop que disseram para mim que eu tenho que colaborar, que eu tenho que fazer junto…Não! Eu sinto que não há maneira melhor de fazer! Percebe a diferença?

Então quando você aplica a liderança em Valores humanos, trabalha uma conscientização um despertar e uma prática através da construção de projetos em valores. Aí dá um salto de qualidade. Não tenha dúvida! Não precisa mais ficar pensando em matar um leão por dia Você quer construir uma nova sociedade uma nova empresa todo o dia.

Leo – E como se chega à empresa? As empresas te procuram, há um representante…

Marilu – Não! Por exemplo: eu fiz um trabalho para FIESP, que é uma das mantenedoras desse grupo, o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) que tem um trabalho belíssimo. São várias fundações.
Eles têm um grupo de treinamento de jovens executivos, eles são trainees , jovens executivos que se tornarão os braços sociais das empresas. Eles serão a cara da empresa  Eu fui à convite, pois fui dar um curso de educação de Valores Humanos e dentre os participantes estava uma moça que coordena essa trabalho no GIFE e me convidou. Fiquei encantada! Eram 35 jovens do Brasil inteiro, de várias empresas, e já se viam embriões bastantes interessantes de ações sociais e criativas.

Leo – Por onde você começa?

Marilu – Primeiramente faço uma palestra de sensibilização.  A empresa me chama eu faço a palestra, e sugiro o workshop. E desses workshops, caso tenha interesse poderá fazer um curso de capacitação, em vários módulos :

Outro formato é a imersão que dura 10 dias, num lugar diferenciado, em tempo integral. Coordeno também um grupo de profissionais, com uma carga de 8 horas dia. À noite tem a chamada usina de criatividade, onde nos reunimos descontraídamente,  onde cada conta como está sua participação no grupo,

Tem a opção de fazer aos finais-de-semana , quinzenais. E esse curso de formação tem a duração de 6 meses a 1 ano.

Leo – A partir disso ele estará apto a ser um multiplicador dentro de sua empresa?

Marilu – Certamente! Sem dúvida! É importante dizer que o trabalho não atinge somente o funcionário, mas também a diretoria da empresa.  Porque não adianta fazer um trabalho de Valores humanos e a cúpula não participar disso.

Fazemos desde o pessoal da segurança até o presidente.

Leo – Começando até pelo presidente não? Em cascata?

Marilu – De preferência ele participa de todos. Porque é importante sentir que aquilo faz a diferença. Entendeu ?

Leo – Então você acredita que também possuímos uma Inteligência Espiritual?

Marilu – Eu não tenho a menor dúvida. Isso está comprovado ! Tem até trabalhos sobre inteligência Espiritual . Eu chamo de Inteligência do Coração. Quer ver uma das coisas que as pessoas não prestam atenção? Quando você é gerado, qual é o primeiro órgão? Não é o coração? É ele quem vai organizar a formação de absolutamente todos os outros sistemas. Não é ele quem define a qualidade das funções de todos os órgãos que vão compor os diferentes sistemas do seu organismo?. E qual é o ultimo que vai embora quando você deixa este planeta? É ele também! Porque ele é o comandante do navio.

A inteligência do coração é a inteligência que gera novos modelos sociais, novas propostas filosóficas…repare que nunca pode considerar um  projeto verdadeiro, se ele não passou pelo filtro do seu coração. Senão ficará perplexo diante de suas próprias conquistas.

Eu não diria a espiritualidade na sua totalidade, mas como um caminho que se abre para uma proposta diferenciada de relacionamento  da empresa consigo mesma, com a sociedade, com o país e com o planeta.

Leo – Produtos de qualidade, honestos, ecologicamente corretos….

Marilu – Isso! Uma vontade de fazer a diferença! Eu noto que algumas vão na onda só. Continuam internamente, muitas vezes, emperrando, ainda arcaica, …isto acontece! Mas há muitos trabalhando com Valores Humanos.

Leo – Atualmente se fala muito de um líder servidor. Inclusive o sucesso do livro O Monge e o executivo…

Marilu – É mas na verdade o líder servidor foi Gandhi quem criou. Quando Mahatma Gandhi disse isso pela primeira vez , meu Deus, acho que ninguém ouviu. Pois a seguir tivemos um século violentíssimo. Mas hoje, o líder servidor, está encontrando uma ressonância muito grande nas pessoas. Eu tenho um amigo muito querido que é o João Signoreli que fez um trabalho belíssimo com um monólogo sobre o Gandhi. É o Gandhi falando. E ele tem feito em escolas em empresas, universidades com uma repercussão enorme. E é Mahatma Gandhi: O líder Servidor.

Leo – É que o conceito se popularizou através do livro. É como o Segredo, onde eu vi aquilo há mais de 30 anos nos livros de Norman Vicente Pealle…
.
Marilu – É …sabe o que é? Essa moça quando escreveu o Segredo ela descobriu  um filão.

Leo – Para ela o Segredo deu certo (risos)

Marilu – Oh! Para ela desvendou (risos). E para muita gente aquilo funcionou e funciona mesmo. Pois a base estrutural, numa dimensão mais profunda, ensina em todas as tradições: se você acredita verdadeiramente em você … muito mais importante que a fé é a confiança. Muito mais importante do que a vontade é a intenção, que é a alma da vontade. Os Kahunas dizem uma coisa muito interessante: Se diante da vida, de qualquer fator que se apresentar de qualquer pessoa, de qualquer problema, se você tiver medo, dúvida não faça.

Então, na verdade, o que me parece fundamental é que a gente confie cada vez mais naquilo que temos realmente para oferecer ao outro. E para que você confie, precisa procurar nessa caixinha de jóias, que é a sua interioridade, esses valores.

Leo – Em sua opinião quais são os talentos que um verdadeiro líder precisa ter?

Marilu – Eu acho que um verdadeiro líder é aquele que tem uma noção global de toda e qualquer situação. Uma visão multifacetada e assim, saber qual é o líder dos que ele lidera, o mais adequado para a solução daquele problema.

Leo – Liderança Situacional?

Marilu – Circular! Não apenas circunstancial, circular. Todos eles têm talentos suficientes para serem mostrados.

Certamente! É ele olhar para o outro, ter muito definido o sentido de alteridade. Isso é fundamental hoje em dia.

Leo – Você colocaria a comunicação como imprescindível?

Marilu – Ora…estrutural Léo! Eu faço workshops baseados exatamente nisso, em comunicação. Ele se vê realmente, e consegue colocar tudo aquilo que está pensando.

Leo – O uso da palavra também?

Marilu – O uso da palavra, a expressão corporal, para ele perceber a linguagem não-verbal, imagética, o imaginário e o imaginal, que é além do imaginário. E que a gente se relaciona animicamente. Olha eu garanto para você que numa mesa de negociação, onde milhões estão sendo decididos no que e onde vão ser alocados, se quando você chegar nessa reunião, encontrar um sujeito, que não esperava, mas que era seu amigo que não via há muito tempo, imediatamente uma cumplicidade se estabelece, e as decisões que talvez não fossem tão favoráveis dele para com você, vão começar a ser vista de uma outra maneira.

Então na verdade não existe nenhuma decisão, seja ela do íntimo, de foro coletivo ou social, ou empresarial que não passe pelo seu coração. Não tem jeito.

Leo – E o Programa de valores Humanos pode, de alguma forma ser mensurável?

Marilu – Não é a intenção. A intenção não é fazer você ganhar mais dinheiro e sim criar na empresa um ambiente e um programa, uma missão da sua empresa, com valores que sejam estruturais para você seus funcionários e o seu produto irá refletir isso. É claro que o lucro vem. Ele vem como consequência natural.

Hoje você vê que as donas de casa, não importa o nível cultural, procuram o produto que elas vejam ter uma tarja indicando que ele tenha um compromisso social, seja com uma obra infantil, ecologia, saúde…de alguma forma que ele tenha um compromisso.

Leo – O consumidor está mais consciente?

Marilu – Muito mais. Eu observo inclusive no próprio supermercado, elas olham. Eu mesmo antes de trabalhar com isso já tive o costume de ver as tarjas. Até o filho da minha governanta, que eu estou criando, já vê. Ele diz: Olha dinda esse aqui está trabalhando para a ABRINQ. Já está se criando uma cultura do compromisso consciente, eu acredito, nas empresas. Interessante viu, porque infelizmente o governo deixou um gap muito  grande  um buraco que está sendo preenchido pela agilidade da empresa.

As empresas estão criando universidades. As universidades corporativas são um fato. E de grande qualidade! Elas tem uma agilidade e um poder decisório muito grande.  Eu acredito que isso vai crescer cada vez mais.

Leo – É o caso de levar isso para as escolas?

Marilu – Sim para criar um líder servidor desde pequeno. A maior empresa que existe é você. Se a criança é conscientizada iremos criar não empresários apenas, mas empreendedores. Que são aqueles que não pensam somente em si. Eles estão sempre preocupados em oferecer algo de bom, de novo para a sociedade. É o criador de novas propostas de novos caminhos, novas vertentes.

Leo – Qual é o caminho para começar um trabalho com você?

Marilu – Podem entrar no meu site:    http://www.marilu.martinelli.nom.br   Lá tem os cursos. Também dou cursos de religiões comparadas, mitologia . e outros. Tudo está no site.

Hoje a empresa precisa o que a aproxima do diálogo com seus diferentes. Não sei se você sabe, em pouco tempo a China procurou fazer algo conosco e era realmente um negócio da China. (risos) O trabalho não foi feito porque nós não sabíamos seus valores. Não sabíamos como falar com eles.

Recentemente tivemos um problema seriíssimo com jovens brasileiros, descendentes de japoneses que foram ao Japão e sofreram problemas terríveis. Foram até presos por não conhecerem a cultura, os valores do povo, faziam coisas que era altamente ofensivas. No Japão por exemplo, você não pode falar primeiro do que um mais velho. É um desacato. Se você não sabe que esse valor de referência é estrutural dentro de uma cultura, vai aprontar como os meninos aprontaram. Pois viemos de um cultura onde os mais velhos são descartáveis. E é uma pena ! Nós não conhecemos nossas raízes por isso nos comportamos assim,. O nosso índio tem no idoso o seu conselho que é a estrutura de valores,  de transmissão da história do seu povo. O Negro também vê no idoso a memória a riqueza. Os yorubás tem uma frase que o conhecimento deve passar dos lábios amorosos para os ouvidos amorosos. Olha que bonito! E isso o idoso é capaz de fazer. Então nós brancos que somos a terceira parte desse triângulo formador estrutural  da nossa cultura …claro, depois outros povos aqui vieram e trouxeram contribuições extraordinárias, mas foi na base do respeito ao nosso idoso. Mas hoje há pensamentos que idosos não consomem mais, então … Nos EUA isso não acontece porque lá o idoso consome…e muito.

Leo – Mas aqui está mudando…

Marilu – Começa a mudar e tem que mudar, porque senão o negócio vai ficar muito difícil e oneroso. Para o próprio governo.

Hoje é preciso conhecer a alma do seu interlocutor, seja ele econômico, comercial, político ou social. Porque se você não conhecê-lo em profundidade, não vai conseguir ter com ele um relacionamento suficientemente amplo e satisfatório. Não vai conseguir mesmo!

Hoje, o mundo árabe está tão diversificado, uma parte nos assusta e uma parte nos deslumbra, com uma proposta desse Sheik de Dubai , ele é um visionário que está colocando suas visões na praça como realidade. Como você vai dialogar com um homem desse se não conhecer os valores dele?  Eles já estão procurando conhecer os nossos.

Muita gente, principalmente os americanos, sabem muito pouco das maravilhas do Islam. Eles tem uma visão que os americanos mandam.  Há pouco tempo a visão dos americanos era que comunistas só faltavam comer crianças vivas. Por exemplo nesta visão o malvado da hora é o árabe. Não sabem nada dessa tradição que é linda do islamismo.

Por isso damos o curso de religiões comparadas, para que as pessoas vejam aquilo que elas tem de proximidade e não de distanciamentos. Então fazemos o cristianismo, o Islam, o Judaísmo, Hinduismo, Budismo o xamanismo.

Na verdade utilizo neste meu grupo de trabalho o xamanismo brasileiro e também  o norte-americano, basicamente  a medicina dos cristais dos Cherokees. Porque eu acho muito importante, tenho um colega de trabalho o Gabriel Martinez que faz esse trabalho, que foi um dos discípulos de Zézito Duarte.

Também conheço a Carminha Levy, acho ela maravilhosa. Ela gosta muito do meu trabalho e eu muito do dela. O xamanismo matricial, a Madona Negra. Eu trabalho muito com a Deusa em todas as tradições. A gente faz workshops com os diferentes arquétipos do feminino. Isso é uma visão xamânica.

Quando eu faço estas imersões, temos 3 etapas:  A de informações, vivencial e construção do projeto, depois vem os valores humanos permeando tudo isso. Nas tradições os valores humanos são os que permeiam.

Leo – Uma mensagem final…

Marilu – Devido  a criação  desse novo momento de relacionamento humano que eu acredito que esteja sendo gerado, cada vez mais somos pontinhos de luz que estamos nos unindo para fazer uma grande fogueira onde vamos pedir ao fogo, nosso irmão mais velho, que transmute, que seja o mensageiro de uma nova proposta de amor, de retidão, de verdade, de paz e de não violência, para cada individuo, corporação, cidade,  planeta. Que tenhamos conscientização e recuperemos que nós e a natureza somos a mesma coisa, que nós e Deus somos um.
Deus não é um conceito é uma experiência.

Que esse fogo nos nossos corações arda realmente querendo contribuir para um mundo melhor, o que me parece cada vez mais viável,  embora existam os arautos da desgraça que acham que isso não é mais possível, pois atingimos um nível tão alto de corrupção que é impossível  reverter . Sinto exatamente o contrário .

As coisas só mudam quando  atingem o clímax , o Break Point. Cada vez mais em todas as parte dos mundo, dentro do coração de alguém está havendo esta movimentação:

Eu não estou feliz assim.
Eu não vejo felicidade nos mais próximos, nas ruas
vejo as pessoas cabisbaixas, .
Será que eu não estou em busca do sentido de estar vivo e só vou encontrar quando eu descobrir quem eu sou mesmo?

Eu sou esse planeta, esse universo, portanto não posso ser o vírus que corrói e traz a doença para o meu planeta, devo ser seu anticorpo.

Um amor muito grande para vocês. Porque eu acredito em todos aqueles que sonham, pois toda a realidade nasce de um sonho

 

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