A Espiritualidade no Trabalho

 

Por: Maysa C. Marin / Gustavo G. Boog

O significado da espiritualidade no trabalho

O tema da espiritualidade no trabalho vem crescendo de forma intensa nos últimos anos no mundo empresarial. Algo que antigamente era visto como assunto desligado do universo organizacional, como algo religioso ou até místico, hoje se insere como uma dimensão estratégica, na medida em que dá significado à missão da empresa e ao trabalho das pessoas. Quando elas tem esta consciência, a conseqüência é que fluem com muito maior facilidade os fatores mais buscados pelos executivos das organizações: a motivação, o desempenho, o espírito de equipe, a comunicação eficaz, a qualidade, o foco no cliente, o estar de bem com a vida.

O foco da espiritualidade no trabalho é a busca de estados mais elevados de consciência e o alinhamento das ações das pessoas, das equipes e das organizações com seus propósitos e missões de vida. Temas que frequentam o nosso dia a dia, como a ecologia, gerenciamento de pessoas e equipes, educação, bem-estar físico e emocional adquirem uma dimensão mais elevada e ampliada quando se conectam ao tema da espiritualidade. As abordagens holísticas, ao integrarem os avanços tecnológicos com os conhecimentos das tradições milenares, religam as pessoas, ajudando-as a deixarem o estreito paradigma mecanicista, trazendo uma visão renovada e dando um sentido de plenitude e de unidade. Quando trabalhamos o tema da espiritualidade no trabalho, os benefícios que podem ser esperados são a melhoria da qualidade de vida individual e coletiva, o estímulo à situações de crescimento e desenvolvimento, o incentivo do sentido de parceria, criatividade, cooperação e trabalho em equipe.

 

A espiritualidade e as crises profissionais e pessoais

A espiritualidade se manifesta de formas aparentemente incomuns: por exemplo, nos momentos de crise, geralmente se manifesta um sentido mais elevado de espiritualidade, como se no momento da necessidade, o ser humano fosse buscar dentro de si as respostas, conectando-se com os conhecimentos adquiridos anteriormente e suas experiências de vida

As crises nos religam com dimensões ao mesmo tempo mais elevadas e mais profundas em nossas vidas, dando a oportunidade de criarmos conexões que muitas vezes estavam faltando em nossa existência. As crises nos obrigam a repensar nossos modos de agir, nosso estilo de vida, nossa escala de prioridades e valores. As crises nos ensinam a nos liberarmos de muito peso inútil que levamos em nossas mochilas, na caminhada da vida.

Podemos dizer que estamos em crise no momento em que descobrimos que o que pensávamos antes já não funciona para o momento presente. As soluções que adotávamos, que antes resolviam determinadas situações, parecem não trazer mais os resultados esperados. Nossa tendência é continuar tentando, tentando, com os métodos conhecidos, mas … não dá certo! As crises nos colocam, de tempos em tempos, diante de coisas que precisamos repensar, disciplinar, aprender e transformar. As crises nos convidam, geralmente de forma incisiva, a nos colocarmos novamente em movimento. Esta é uma das maneiras de despertar o lado espiritual. Outra, despertada ou não pelas crises, é a busca do autoconhecimento

 

Os ensinamentos dos animais sobre a espiritualidade

A observação da Natureza, e em particular dos animais, nos conduz a um sentido novo de espiritualidade, conhecido de muitas tradições milenares. Precisamos aprender a não impedir o fluxo da vida. A cada nova situação que ela nos apresenta, saber usar a palavra correta, utilizar a atitude mais adequada. Sem pressa, sem stress desnecessários, canalizando nossa energia de uma forma criativa, com flexibilidade e entusiasmo. Intuir quando é a hora de calar, de aguardar que os outros estejam atentos ao que queiramos propor.

Quando observamos por exemplo uma águia, vem uma lição espiritual importante de elevarmos nossa visão, voarmos alto sobre nossos problemas e termos uma visão panorâmica da situação em que nos encontramos e assim acharmos saídas ou soluções. E assim cada animal nos trás ensinamentos, se soubermos ser observadores atentos; e com isto trazemos uma nova dimensão espiritual aos nossos desafios de trabalho.

 

Trazendo a espiritualidade ao nosso dia a dia

Espiritualidade e auto – conhecimento são irmão gêmeos, estimulando ações de transformação pessoal e, consequentemente, de seus ambientes. Na medida em que a organização desenvolve com maior clareza sua missão e visão, num processo que gerencialmente é denominado de planejamento estratégico, estamos revelando as intenções reais, que precisam ter uma dimensão de transcendência, de servir a uma causa maior. Quando as pessoas se conectam à dimensão espiritual de suas tarefas do cotidiano, novos significados surgem. Por exemplo, em qualquer relacionamento, quando olhamos a outra pessoa como um ser em processo de evolução, semelhante a nós, fica muito mais fácil o entendimento.

A brutal velocidade de transformação pela qual estamos passando em todos os aspectos de nossas vidas faz com que toda a segurança que tínhamos no material e no concreto se desvanece, como uma neblina aos primeiros raios do sol. As dimensões do intangível começam a se tornar mais presentes, e com isto os processos de transformação individual, empresarial, social e planetária começam a fazer sentido e tem seu lugar . Tudo está perfeito no ritmo em que está acontecendo! É oportuno lembrar da conhecida frase de Teilhard de Chardin não somos seres humanos tendo experiências espirituais; antes, somos seres espirituais tendo experiências humanas.

Gustavo G. Boog é Consultor e Terapeuta Organizacional (gustavo@boog.com.br)
Maysa C. Marin é Consultora, Coaching e Terapeuta (maysa.marin@uol.com.br)
São autores e coordenadores da Série Espiritualidade no Trabalho, da Editora Gente
Texto publicado na Revista Gestão de RH

 

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