Considerações sobre Plantas de poder

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE PLANTAS DE PODER

Acredita-se que há 3 milhões de anos  atrás o homem se destacava de outros primatas, numa lenta jornada em busca de si mesmo.  Neste período o cérebro triplicou o seu peso. Mas segundo a ciência foi há 500.000 anos que se formou o neocórtex, onde a consciência humana, que era nebulosa ganhava amais nitidez. O neocórtex está relacionado com o raciocínio abstrato.
Nos últimos cem mil anos o processo se acelerou de forma significativa. O Homo Sapiens tornara-se senhor do planeta e já devia contar com algo próximo de uma consciência de si mesmo como indivíduo singular da sua espécie e um sistema rudimentar de comunicação querendo se articular enquanto linguagem.

Nos últimos trinta mil anos, que uma verdadeira revolução ocorreu no processo evolutivo.

Por essa época, os nossos ancestrais caçadores e coletores já tinham uma forma de organização solidária que lhes garantiam a sobrevivência frente ao ataque dos predadores e os rigores do meio ambiente.

Até hoje, pesquisadores e cientistas buscam uma boa resposta para essa aceleração evolucionária, que corresponde aos últimos preparativos para que a humanidade entrasse na cena da história. Alguns autores, entre eles Wasson e Mckenna, apresentam uma sólida argumentação, que eu também partilho nessa exposição, de que uma das causas principais da súbita irrupção da autoconsciência humana teria sido a simbiose do homem com o mundo vegetal e especificamente com os psicoativos.

Essa é a perspectiva poética e visionária que sempre se apresenta quando “consultamos” a inteligência e a memória que a Mente Vegetal guarda desses eventos. Por meio dessa tese podemos entender também, o cenário onde esses homens e seus conhecimentos sobre as plantas nutritivas, curativas e psicoativas, o que causou mudanças e respostas cada vez mais rápidas na sua estrutura neural, estado de consciência e comportamento.

No entanto, foi no final da última glaciação, que ocorreu há uns doze mil anos, que as condições se tornaram propícias para a difusão da agricultura, domesticação de animais e pastoreio.
A intimidade com o manejo dessa última atividade trouxe um contato cada vez mais estreito com os fungos psilocíbicos associados ao esterco de gado. Floresceram a partir dessa época festas consagradas aos cogumelos sagrados, como parte dos cultos à fertilidade associados à Grande Deusa.

Vestígios arqueológicos da arte desse período, principalmente a partir do oitavo milênio a.C., expressam de forma literal ou estilizada, o uso cerimonial dos fungos em povos e culturas bastante distantes entre si.
O que parece indicar a importância e a universalidade desses cultos na formação de uma espécie de pré-religião, primeira separação que o homem fez de uma “esfera sagrada” em oposição a um “mundo profano”. Certas plantas e árvores, ou a natureza de um modo geral, eram revestidas de atributos divinos ou mesmo divinizados. Hoje estamos em condição de afirmar que esta postura não tinha nada de ingênua ou simplória, correspondendo sim à ação da psilocibina e outros agentes enteógenos e as consequências das visões dela decorrentes nos mitos, símbolos e arquétipos que se apresentavam à consciência da época.

Essas hierofanias vegetais foram, portanto, cronologicamente, as mais antigas que se tem notícias. O que atesta que, por esse tempo, no limiar da história conhecida, já havia uma familiaridade com o tema do sagrado/vegetal, do Deus/Vegetal, que remonta a tempos ainda mais longínquos. Sem dúvida, este foi um dos principais substratos que mais tarde vieram a formar os diversos Cultos dos Mistérios da antiguidade e às grande religiões do mundo. Talvez o caso mais conhecido e também o mais eloquente seja o do Soma.


Essas influências das plantas enteógenas na experiência dos estados místicos associados a cultos agrários e de fertilidade, podem ser encontrados desde a Ásia, passando pela Europa, até o extremo do continente sul-americano. O que nos permite supor que elas foram, desde uma antiguidade ainda mais remota, o agente acelerador e o detonador desse autêntico “Big Bang” da consciência que ocorreu nos últimos trinta mil anos.
Existe um certo consenso de que as triptaminas tenham sido esse enteógeno primordial, não só pela reconstrução e suposição histórica, como também e principalmente por causa da excelência e peculiaridade do êxtase ou “miração” triptamínica, cujas visões são inigualáveis em florescência, intensidade, conteúdo e principalmente na capacidade do Eu interagir no interior dos eventos que fazem parte desse estado de consciência cósmica.

A consagração dos insights das visões como sendo de origem divina, explica a reverência com que essas plantas eram tratadas.
Mais maravilhoso ainda é essa oportunidade que a Mente Vegetal ofereceu à Mente Humana e continua oferecendo ainda hoje na forma da mesma revelação que foi enviada aos nossos longínquos antepassados. Isso porque, “revelação” é uma verdade sempre idêntica em si mesma, apesar de poder ser expressa por símbolos diversos dentro da psique humana. Ela é a mesma visão dos místicos e iniciados de todas as idades, o que varia é apenas a convicção e o juízo de valor que tiveram sob o que experimentaram. Isso fica claro, quando constatamos as semelhanças e pontos comuns dos relatos das experiências de êxtase nas mais diversas tradições.

Se no passado foram considerados bem-aventurados “aqueles que não viram e creram”, maior prazer teremos nós quando pudermos enxergar tudo aquilo que a nossa fé sempre acreditou !

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