Dia de Los Muertos

Por Léo Artese:

Morte é um evento que acontece com seres animados. Uma referência dos sentimentos mais profundos e temidos para o ser humano. Ela levanta as questões: De onde eu venho? Para onde vou ? Qual é é o sentido da vida? Existe outra a vida depois dessa?

A morte dá medo e nós a evitamos, nós a escondemos de nossa existência. Ela incita o amor, em vida não há morte e vice-versa. A morte fascina, horroriza. O macabro, o aterrorizante e o infeliz eles estão ligados à morte.  Se fôssemos eternos e imortais, a vida não teria tanto significado. A morte tem um papel preponderante em nossa existência, de um lado como um limite, um fim. E do outro uma fronteira, um limiar de uma nova vida, de umas nova consciência.

No México,  a morte é uma questão de riso e celebração pelo falecido que partiram. O festival dos mortos é uma maneira de homenagear os ancestrais, mesmo para pessoas que são estranhas aos costumes. Os fazendeiros do México comemoram, indígenas e mestiços, que chega com o fim do ciclo agrícola ( Última Colheita) de muitos produtos, principalmente a abóbora.

É uma das festas mexicanas mais animadas, pois, segundo dizem, os mortos vêm visitar seus parentes. Ela é festejada com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos mortos, os preferidos das crianças são as caveirinhas de açúcar. Segundo a crença popular, nos dias 1 e 2, chamados de Días de Muertos, os mortos têm permissão divina para visitar parentes e amigos. Por isso, as pessoas enfeitam suas casas com flores, velas e incensos, e preparam as comidas preferidas dos que já partiram. As pessoas fazem máscaras de caveira, vestem roupas com esqueletos pintados ou se fantasiam de morte.

A celebração do Dia dos Mortos, como é popularmente conhecida, também conhecida como a noite dos mortos, é praticada em toda a República Mexicana. Envolve tanto comunidades indígenas, quanto grupos mestiços, urbanos e camponeses. Na região lacustre, as cidades em que a festa ganhou mais fama são Patzcuaro, Tzintzuntzan, Janitzio, Ihuatzio e Zirahuén, entre outros.

Em novembro de 2018, estive em Patzcuaro – Michoacan, onde se conserva a mais antiga tradição,  pela “Aliança Internacional de Xamanismo Universal – IAUSH”, realizando um antigo sonho. O Dia dos Mortos no México é celebrado com grande intensidade nas cidades e vilarejos ao redor do Lago Pátzcuaro, é uma tradição solene que preserva aquela genuína manifestação de profundo respeito e veneração aos seres que já passaram pela vida.

Começa no dia 31 e coincide com as tradições católicas do Dia de todos Os Santos e Dia dos Finados.

Origem do Dia dos Mortos

Os rituais que celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo menos há três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento. O festival que se tornou o Dia dos Mortos era comemorado no nono mês do calendário solar asteca, por volta do início de agosto, e era celebrado por um mês completo

A exibição de “Coco”, uma animação da Disney inspirada no Dia De Los Muertos, aqui no Brasil o título foi traduzido como: “A Vida é Uma Festa”, mostra a união da família e que não se deve esquecer os entes queridos em datas especiais como o dia dos mortos, apesar dos erros que cometeram na vida, a lembrança para eles é importante. O filme transmite o sentimento mexicano através da tradição.

O Dia dos Mortos, como um culto popular, é um ato que nos leva ao recolhimento, bem como à oração ou celebração; especialmente o último, no qual a morte e os mortos vagueiam e faziam sentir a sua presença quente entre os vivos. Com os mortos também vem sua majestade Catrina, a Morte.  Ela desce à terra e vive com os mexicanos e com as muitas culturas indígenas. Ela é simples,etérea,  seus ossos e seu sorriso estão estão em esculturas, pinturas, camisetas, altar e galerias de arte.

A crença popular é que as almas dos entes queridos que nos deixaram retornam do além-túmulo durante o Dia dos Mortos. Por esta razão, eles são recebidos com uma oferenda onde eles colocam sua comida e bebida favoritas, frutas, caveiras, doces e, se necessário, brinquedos para as crianças. Uma parte muito importante desta tradição envolve visitar os cemitérios. Seja durante o dia ou a noite, as famílias vêm e colocam velas nas sepulturas como forma de iluminar o caminho das almas quando voltam para casa.

Tradição do Dia dos Mortos no México

É a época em que as almas dos parentes falecidos voltam para casa para viver com os parentes vivos e nutrir-se da essência da comida que lhes é oferecida nos altares domésticos. Devemos considerar que a celebração do Dia dos Mortos, acima de tudo, é uma celebração da memória. Os rituais reafirmam o tempo sagrado, o tempo religioso e este tempo é um tempo primordial, é um tempo de memória coletiva. O ritual das almas é um ato que privilegia a memória do esquecimento.

A oferta apresentada no primeiro e no segundo dia de novembro é uma homenagem a um visitante ilustre, uma vez que o povo acredita sinceramente que o falecido a quem ele se dedica terá que vir de além-túmulo para apreciá-lo. Compõe-se, entre outras coisas, do pão típico dos mortos, abóbora em tacha e pratos da culinária mexicana que na vida eram da preferência do falecido. Para torná-lo mais agradável, enfeites também são usados, como flores, papel picado, velas amarelas, crânios de açúcar e queimadores de incenso em que copal é queimado.

Entre os antigos povos Nahua, após a morte, a alma viajou para outros lugares para continuar vivendo. É por isso que os enterros às vezes eram feitos com as ferramentas e os copos que o falecido usava na vida e, de acordo com sua posição social e política, eram enterrados com seus companheiros, que podiam ser uma ou várias pessoas ou um cachorro. O além para estas culturas, foi transcender a vida para estar no espaço divinizado, que habitava os deuses.

Em cada jantar oferecem o pão dos mortos. Existem diferentes estilos e formas. O mais popular é redondo, coberto de açúcar branco ou vermelho, com tiras que simulam ossos. Os astecas dedicaram um mês inteiro a essa importante celebração, que começou no início de agosto, mas com a chegada dos espanhóis e das tradições hispânicas, as datas definitivamente mudaram.

No dia 01 e 02 de novembro, Dia de Todos os Santos (Dia dos Vivos) e do Dia dos Mortos, respectivamente inspiram, milhares de pessoas para viajar até os cemitérios para visitar seus entes querido falecidos. É comum ver pessoas que transportam ofertas, que são alimentos e bebidas que os falecidos gostavam quando viviam. São entregues em uma altares  armados em cemitérios de modo prestar homenagem aos falecidos.

Muita música e bebidas (principalmente mescal) vem surgindo a partir das primeiras horas da manhã, de modo que, à tarde, os cemitérios se tornam verdadeiras feiras cheias de cor, movimento. A visita é feita com comida, bebida, música, orações e muito mais. Da mesma forma, nos dias de folga, essa data é usada para que os vivos da família se reúnam em uma atmosfera festiva. No cemitério são esperadas grandes multidões, não faltam rezadores, músicos.

O povo veste em muitas cores para venerar a morte: flor de calêndula amarelo, o wallflower branco, flor de feltro vermelho chamado pata de leão … é um reflexo do sincretismo de duas culturas: a indígena e a hispânica, que estão impregnadas e criam uma nova linguagem e uma cenografia da morte e dos mortos.
Deve ser dito que nossas celebrações têm raízes e cruzam os caminhos do campo e da cidade. Oaxaca, com seus milhares de povos indígenas, é um exemplo claro do culto, sabores culinários, frutas e incenso; os mortos voltam para casa.
Nessas datas, celebra-se o ritual que traz os vivos com seus parentes que morreram. É o tempo transcendental em que as almas dos mortos podem retornar ao mundo dos vivos.

Em 1º de novembro, o “anjinho”,  realizado para homenagear as crianças que morreram no ano anterior. Oferendas e altares são colocados para os “anjinhos” (pequenos mortos), geralmente nos cemitérios locais.

Em 2 de novembro, a “vigília do falecido” é realizada. A vigília começa na noite do dia antes da preparação  que dos enfeites nos túmulos e termina na manhã do dia 2. Há a novena, que começa nove dias antes, onde familia e amigos vão rezar o rosário e pedir o repouso eterno da alma do falecido. Mulheres e crianças colocam oferendas de flores e comida em guardanapos bordados.

Em Patzcuaro e outras cidades em Michoacán o “Festival da Cultura da Morte” provoca uma série de eventos adicionais que incluem a exibição de pinturas, fotografias, filmes, danças e artesanato. Atividades esportivas como competições de canoagem no lago, “Calavaeras Tournaments” (competições de poesia satírica sobre morte e humor negro) e o Concerto da Basílica de Patzcuaro. Este festival acontece de 27 de outubro a 2 de novembro.

Pátzcuaro é um dos  melhores lugares do México para ver e viver a Festa do Dia de Los Muertos. Ela pode ser divida em 2 partes : O Centro Histórico onde, na praça central, há uma grande feira de artesanatos, altares em homenagem aos mortos, palcos com danças típicas, comidas e bebidas e a Ilha de Janitzio, uma das ilhas do Lago Patzcuaro, onde está o cemitério e acontece boa parte da programação da cidade. e

Antes da meia noite

Durante a noite do 1 de novembro a ilha de Janitzio é iluminada com velas, as ruas ficam repletas de gente vendendo comidas típicas e há movimento a noite toda. Para comemorar, acontece uma procissão noturna com as canoas iluminadas por velas no lago com direito a música. As canoas transportam comidas e bebidas para dar as boas vindas para aqueles que voltam da morte, e que são a grande razão da celebração. As pessoas começam a chegar em Pátzcuaro no dia primeiro de novembro, e já no finalzinho da tarde a cidade fica bem lotada.

Nosso propósito (Aliança) era fazer tudo. Primeiramente fomos pintar os nossos rostos

Depois da meia noite

Depois de meia noite o programa é visitar os cemitérios.  Visitar um cemitério no dia e mortos, por mais macabro que pareça, é uma experiência inesquecível, especialmente a noite.

Durante o dia, ou no comecinho da noite as famílias locais vão aos cemitérios e colocam velas sobre as tumbas, segundo a tradição as velas são uma forma de iluminar o caminho das almas para o seu retorno a casa. E pra celebrar o retorno do ente querido, as tumbas são cobertas com comidas e coisas que a pessoa gostava. Na madrugada do dia 2 de novembro é que a verdadeira festa acontece, os cemitérios ficam iluminados muitas velas, e algumas famílias até dormem por lá. No dia do mortos os cemitérios ficam abertos 24 horas. Durante as “veladas” são contratados grupos de musica como mariachi, etc para tocar as músicas preferidas dos mortos no pé da tumba.

Ouros simbolos

O que é a Flor de Cempasúchil?

É a flor de calêndula é conhecida como Tagete, cravo chinês ou Clavelón da Índia. No México, é chamado de flor dos mortos ou cempaxóchitl. Seu nome científico é Tagetes erecta. A palavra “cempasúchil”, como tal, vem de nahuatl e significa “vinte flores” ou “flor de vinte pétalas”. Uma  flor com um grande valor simbólico no México, especialmente na celebração do dia dos mortos. É usada como decoração e oferenda ritual no Dia dos Mortos. É usual usar as pétalas para marcar no chão o caminho que as almas dos mortos devem seguir para os altares domésticos erguidos em sua honra. Isto porque, tradicionalmente, disse que suas pétalas manteve o sol quente e iluminou o caminho de volta para o falecido.

As pétalas também são usadas para formar colares que simbolizam a felicidade.

Também costumam colocar um pratinho de sal no altar e um copo de água, para evitar que a alma do falecido seja corrompida pelas tentações terrenas, enquanto que a água permite que seu espírito mate a sede e se fortaleça para a sua viagem de volta ao mundo dos mortos.

Os altares muitas vezes contam com dois, três e até sete níveis diferentes e, conforme explicou Oscar, cada um tem um significado. Segundo disse, os dois primeiros níveis representam a divisão entre o céu e a Terra, e trazem tanto elementos como a chuva, o vento e os raios de sol, como os frutos da terra. O terceiro nível simboliza o submundo, e costumava estar associado ao sistema de crenças asteca. Mas, por conta da influência europeia, ou seja, do catolicismo, esse nível também pode representar a Santa Trindade. Já os altares que com sete níveis são os mais comuns, e cada um dos “andares” designa os sete estágios pelos quais as almas devem passar antes de chegar ao céu – ou ao inferno! Os sete níveis também estão relacionados com os sete pecados capitais

As calaveras (Crânios).
Eles são representações de parentes falecidos. Crânios feitos de açúcar ou chocolate e frequentemente consumidos por crianças após a celebração, são um exemplo da capacidade mexicana de celebrar a morte.

Cruz branca
Uma cruz feita de cal é desenhada no chão debaixo do altar. Originalmente representava os quatro pontos cardeais correspondentes aos quatro elementos. Agora é também uma representação da cruz cristã.

Incenso
Um cálice com incenso ou copal (uma resina de árvore aromática usada em cerimônias indígenas) é colocado no altar. É uma maneira de purificar as almas dos mortos e afastar os maus espíritos.

Lanterna
Pendurada no altar, é uma luz que guia os mortos para encontrar o caminho de casa. É também uma referência à Estrela de Belém que levou os Sábios ao nascimento do Salvador.

Em 2008, a Unesco declarou a festividade como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade do México.