EAC – Grof – LSD
O médico psiquiatra Paulo Urban, escreveu uma matéria sobre Stanislav Grof, o psiquiatra tcheco que desenvolveu a prática da respiração holotrópicas, que leva o homem a vivenciar estados alterados de consciência.
Grof, pesquisador de estados incomuns da consciência, cunhou o termo *respiração holotrópica*, “holos” em grego significa totalidade;” tropein” traduz-se por dirigir-se a, orienta-se para. Respiração Holotrópica é aquela cuja prática amplia a consciência, levando-a a uma experiência de transcendência e inteireza.
Tudo começou em 1956, quando a Faculdade de Medicina de Praga, da qual Grof era médico residente, recebeu do laboratório Sandoz uma substância recentemente sintetizada em Basel (Suíça) pelo químico Albert Hofmann, que propunha aplicar o fármaco no tratamento de psicoses. Grof foi um dos voluntários para experimentar a nova droga, cujas propriedades psicoativas revelaram-se notáveis. Era o LSD-25, ou ácido lisérgico.
O jovem médico refere-se à sua primeira sessão psicodélica como algo indescritível, cuja culminância o levou à consciência cósmica.
Grof coordenou mais de quatro mil sessões de LSD em dezenas de milhares de pessoas, pacientes ou voluntários, os quais lhes forneceram extenso material, que o levou a descobertas revolucionárias sobre o psiquismo. Ele concluiu que o LSD e demais alucinógenos, como a psilocibina, a mescalina, a triptamina e semelhantes, funcionam como amplificadores e catalisadores das atividades psíquicas, capazes que são de abrir a consciência para percepções incomuns e precipitar experiências espirituais extraordinárias, fazendo emergir conteúdos inconscientes que jamais seriam explorados de outra forma.
Além disso, o espírito investigador de Grof o levou ao contato com xamãs de toda a América e a trocar informações com antropólogos e representantes de antigas doutrinas, como o yoga, o budismo, o tantrismo, o zen e a ordem beneditina, entre outras. O médico interessou-se ainda pela parapsicologia, focalizando-se em experiências do quase-morte. Na mecânica quântica, encontrou base científica para várias concepções cosmológicas religiosas, incluindo a possibilidade de curas espirituais, além da crença fundamental de que algo, de alguma forma, sobrevive à morte física.
Em fins dos anos 60 e início dos anos 70, aplicou a terapia psicodélica em pacientes cancerosos terminais.
Em Psicoterapia pelo LSD, 1980 (não traduzido), descreveu detalhadamente as pesquisas que o conduziram à certeza de que os alucinógenos, longe de seu propagado caráter tóxico, podem ser administrados de modo diligente, não indiscriminadamente a todo e qualquer caso, mas sob supervisão de terapeutas preparados, visando a uma profunda reformulação do universo psicológico daqueles que os usam, de modo que muitos aspectos da personalidade que requeiram tratamento possam ser especialmente trabalhados.
As portas da percepção são os sentidos, quando se os transcende, tudo o que resta é o infinito, escreveu o poeta britânico William Blake, adepto do haxixe. A frase inspirou seu conterrâneo Aldous Huxley que intitulou Portas da Percepção o livro em que narra suas experiências sistemáticas com a mescalina. O tema fora introduzido no Admirável Mundo Novo e voltaria a ser explorado no romance A Ilha. A mescalina é o alucinógeno extraído do peiote, o mesmo cacto mexicano que proporcionou a Carlos Castañeda compor sua extensa obra de ensinamentos recebidos de seu mestre índio Don Juan. Mas Huxley também experimentaria o LSD; quem ofereceu a ele foi o psiquiatra inglês Humphry Osmond, outro pesquisador que se valia do ácido para fins terapêuticos, na Universidade de Saskatchewan, criador do termo “psicodélico” (do grego psico = alma, mente+delos = manifestação, evidência).