Histórias dos Orixás
Um Babalawo me contou:
Antigamente, os orixás eram homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes;
Homens que se tornaram orixás por causa de suas sabedorias;
Eles eram respeitados por causa de suas forças;
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos suas memórias e os altos feitos que realizaram;
Foi assim que esses homens se tornaram orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra, antigamente, como hoje,
Muitos deles não eram valentes, nem sábios,
A memória destes não se perpetuou,
Eles foram completamente esquecidos. Não se tornaram orixás.
Em cada vila o culto se estabeleceu sobre a lembrança de um ancestral de prestígio
E lendas foram transmitidas de geração em geração para render-lhes homenagem.
*Pierre Verger*
Exú
Laroyê!
Exu é o mais sutil e o mais astuto de todos os orixás.
Ele aproveita-se de suas qualidades para provocar mal-entendidos e discussões
entre as pessoas ou para preparar-lhes armadilhas.
Ele pode fazer coisas extraordinárias como, por exemplo,
carregar, numa peneira, o óleo que comprou no mercado,
sem que este óleo se derrame desse estranho recipiente!
Exu pode ter matado um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje!
Se zanga-se, ele sapateia uma pedra na floresta, e esta pedra põe-se a sangrar!
Sua cabeça é pontuda e afiada como a lâmina de uma faca.
Ele nada pode transportar sobre ela.
Exu pode também ser muito malvado, se as pessoas se esquecem de homenageá-lo.
É necessário, pois, fazer sempre oferendas a Exu, antes de qualquer outro orixá.
A segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado.
É bom fazer-lhe oferendas neste dia,
de farofa, azeite de dendê, cachaça e um galo preto.
Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam,
esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas.
Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça.
As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro.
Exu, zangado pela negligência dos dois amigos,
decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira.
Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo
que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo.
Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e,
muito educadamente, cumprimentou-os:
“Bom trabalho, meus amigos!”
Estes, gentilmente, responderam-lhe:
“Bom passeio, nobre estrangeiro!”
Assim que Exu afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita,
falou para o seu companheiro:
“Quem pode ser este personagem de boné branco?”
“Seu chapéu era vermelho”, respondeu o homem do campo à esquerda.
“Não, ele era branco, de um branco alabastro, o mais belo branco que existe!”
“Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável!”
“Ele era branco, tratas-me de mentiroso?”
“Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?”
Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança do outro.
Irritados, eles agarraram-se e começaram a bater-se
até matarem-se a golpes de enxada.
Exu estava vingado!
Isto não teria acontecido se as oferendas a Exu
não tivessem sido negligenciadas.
Pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás
se é tratado com consideração e generosidade.
Há uma maneira hábil de obter um favor de Exu.
É preparar-lhe um golpe mais astuto que aqueles que ele mesmo prepara.
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca.
Seus campos estavam áridos, a chuva não caía.
As rãs choravam de tanta sede e os rios
estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores.
Nenhum orixá invocado escutou suas queixas e gemidos.
Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode.
Exu comeu com apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado.
Exu teve sede.
Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa,
e que tinham, em suas casas, os vizinhos,
não foi suficiente para matar sua sede!
Exu foi à torneira da chuva e abriu-a sem pena.
A chuva caiu.
Ela caiu de dia, ela caiu de noite.
Ela caiu no dia seguinte e no dia de depois, sem parar.
Os campos de Aluman tornaram-se verdes.
Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória:
“Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes!
Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas!
Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca!
Joro, jara, joro Aluman!”
E as ranzinhas gargarejavam e coaxavam,
e o rio corria velozmente para não transbordar!
Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode
com o tempero no ponto certo da pimenta.
havia chovido bastante. Mais, seria desastroso!
Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.
Ogum
Ogum Yêêê!
Ogum era o mais velho e o mais combativo
dos filhos de Odudua, o conquistador e rei de Ifé.
Por isto, tornou-se o regente do reino quando Odudua,
momentaneamente, perdeu a visão.
Ogum era guerreiro sanguinário e temível.
“Ogum, o valente guerreiro,
O homem louco dos músculos de aço!
Ogum, que tendo água em casa,
lava-se com sangue!”
Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Ele trazia sempre um rico espólio de suas expedições,
além de numerosos escravos.
Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odudua, seu pai, rei de Ifé.
“Ogum o violento guerreiro,
o homem louco, dos músculos de aço.
Ogum, que tendo em casa,
lava-se com sangue!”
Ogum teve muitas aventuras galantes.
Ele conheceu uma senhora, chamada Elefunlosunlori-
“aquela que pinta a cabeça com pó branco e vermelho.”
Era a mulher de Orixá Okô,o Deus da agricultura.
De outra feita, indo para a guerra, Ogum encontrou, à margem de um riacho,
uma outra mulher, chamada Ojá, e com ela teve o filho Oxóssi.
Teve, também, três outras mulheres que tornaram-se, depois, mulheres de Xangô.
Kawo Kabieyesi Alafin Oyó Alayeluwa!
Saudemos o Rei Xangô, o dono do palácio de Oyó, Senhor do Mundo!”
A primeira, Iansâ, era bela e fascinante;
a segunda, Oxum, era coquete e vaidosa;
a terceira, Obá era vigorosa e invencível na luta.
Ogum continuou suas guerras.
Durante uma delas, ele tomou Irê.
Antigamente, esta cidade era formada por sete aldeias.
Por isto chamam-no, ainda hoje, Ogum mejejê lodê Irê-
“Ogum das sete partes de Irê”
Ogum matou o rei Onirê e o substituiu pelo próprio filho,
conservando para si o título de Rei.
Ele é saudado como Ogum Onirê! “Ogum Rei de Irê!”
Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma coroa,”akorô”.
Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô-“Ogum dono da pequena coroa”.
Após instalar seu filho no trono de Irê,
Ogum voltou a guerrear por muitos anos.
Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar.
Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia,
na qual todo mundo devia guardar silêncio completo.
Ogum tinha fome e sede.
Ele viu as jarras de vinho da palma,
mas não sabia que elas estavam vazias.
O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo.
Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se.
Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas.
A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente o filho de Ogum
e ofereceu-lhe seus pratos prediletos:
caracóis e feijão, regados com dendê;
tudo acompanhado de muito vinho de palma.
“Ogum, violento guerreiro,
o homem louco dos músculos de aço.
Ogum, que tendo água em casa,
lava-se com sangue!”
“Os prazeres de Ogum são o combate e as brigas.
O terrível orixá, que morde a si mesmo sem dó.
Ogum mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro.
Ogum mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada!”
Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência,
e disse que já vivera bastante,
que viera agora o tempo de repousar.
Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra.
Ogum tornara-se um orixá.
Oxossi
Okê!
Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas.
Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames.
Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegado o dia, o rei instalava-se no pátio do seu palácio.
Suas mulheres sentavam-se à sua direita,
seus ministros sentavam-se à sua esquerda,
seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas,
e os tambores soavam para saudá-lo.
As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma.
Elas comemoravam e brincavam.
De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa.
O pássaro voava à direita e voava à esquerda…
Até que veio pousar sobre o teto do palácio.
A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras,
furiosas porque não foram também convidadas para a festa.
O pássaro causava espanto a todos!
Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.
Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio,
sua asa esquerda cobria o lado direito do palácio,
as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça, o portal da entrada.
As pessoas assustadas comentavam:
“Ah! Que esquisita surpresa?”
“Eh! De onde veio este desmancha prazer?”
“Ih! O que veio fazer aqui?”
“Oh! Bicho feio de dar dó!”
“Uh! Sinistro que nem urubu!”
“Como nos livraremos dele?”
“Vamos, rápido, chamar os caçadores mais hábeis do reino.”
De Idô, trouxeram Oxotogun, o “Caçador das vinte flechas”.
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas.
Oxotogun afirmou:
“Que me cortem a cabeça se eu não o matar!”
E lançou suas vinte flechas, mas nenhuma atingiu o enorme pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogi, o “Caçador das quarenta flechas”.
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas quarenta flechas.
“Oxotogi afirmou:
“Que me condenem à morte, se eu não o matar!”
E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o “Caçador das cinquenta flechas”.
Oxodotá afirmou:
“Que exterminem toda a minha família, se eu não o matar”.
Lançou suas cinquenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o “Caçador de uma flecha só”.
O rei lhe ordenou matar o pássaro com sua única flecha.
Oxotokanxoxô afirmou:
“Que me cortem a cabeça em pedaços se eu não o matar!”
Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos,
foi rápido consultar um babalaô, o adivinho,
e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
“Ah! disse-lhe o babalaô”.
“Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza.
Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza”.
E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse as feiticeiras.
A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito,
e foi rápido colocar na estrada, gritando três vezes:
“Que o peito do pássaro aceite este presente!”
foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha.
O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro.
Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então.
A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito.
O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu.
A notícia espalhou-se:
“Foi Oxotokanxoxô,o “Caçador de uma flecha só”,que matou o pássaro!
O rei lhe fez uma promessa, se ele o conseguisse!
Ele ganhará a metade da sua fortuna!
Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio,
e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!!”
Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa,
Oxotogun, o “Caçador das vinte flechas”,
ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios;
Oxotogi, o “Caçador das quarenta flechas”, ofereceu-lhe quarenta sacos;
Oxotadotá, o “Caçador das cinquenta flechas”, ofereceu-lhe cinquenta.
E todos cantaram para Oxotokanxoxô.
O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô:
“Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!! “O caçador Oxó é popular!”
E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!!
Ossain, o Senhor das Folhas
Ewé o!
Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas.
Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.
Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda,
a miséria, as doenças e os acidentes.
Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta.
Eles dependiam de Ossain para manter a saúde
ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso,
irritado com esta desvantagem,
usou de um ardil para tentar usurpar, de Ossain,
a propriedade das folhas.
Falou do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.
Explicou-lhe que, em certos dias,
Ossain pendurava, num galho de Iroko,
uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.
“Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias”, disse-lhe Xangô.
Iansã aceitou a missão com muito gosto.
O vento soprou a grandes rajadas,
levando o telhado das casas,
arrancando as árvores,
quebrando tudo por onde passava e,
o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada.
A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os orixás se apoderaram de todas
Cada um tornou-se dono de algumas delas,
mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes
e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação.
E, assim, continuou a reinar sobre as plantas,
como senhor absoluto.
Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
Xangô
Kawo Kabiyesi Le!
Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro,
cujo corpo era preto à direita e branco à esquerda.
Homem valente à direita,
homem valente à esquerda.
Homem valente em casa,
homem valente na guerra.
Oranian foi o fundador do Reino de Oyó, na terra dos iorubas.
Durante suas guerras, ele passava sempre por Empê,
em território Tapá, também chamado Nupê.
Elempê, o rei do lugar, fez uma aliança com Oranian
e deu-lhe, também, sua filha em casamento.
Desta união nasceu este filho vigoroso e forte, chamado Xangô.
Durante sua infância em Tapá, Xangô só pensava em encrenca.
Encolerizava-se facilmente, era impaciente,
adorava dar ordens e não tolerava reclamação.
Xangô só gostava de brincadeira de guerra e de briga.
Comandando os pivetes da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores.
Crescido, seu caráter valente o levou a partir em busca de aventuras gloriosas.
Xangô tinha um Oxé – machado de duas lâminas;
tinha, também, um saco de couro, pendurado no seu ombro esquerdo.
Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé:
aquilo que ele engolia para cuspir fogo e amedrontar, assim, seus adversários,
e a pedra de raio com as quais ele destruía as casas de seus inimigos.
O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô.
Aí chegando, as pessoas assustadas disseram:
“Quem é este perigoso personagem?”
“Ele é brutal e petulante demais!”
“Não o queremos entre nós!”
“Ele vai atormentar-nos!”
“Ele vai maltratar-nos!”
“Ele vai espalhar a desordem na cidade!”
“Não o queremos entre nós!”
“Mas Xangô os ameaçou com seu oxé.
Sua respiração virou fogo
e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio.
Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando:
Kabiyei Sango, Kawo Kabiyei Sango Obá Kossô!
“Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!”
Quando Xangô tornou-se rei de Kossô, ele pos-se à obra.
Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam,
Xangô fazia as coisas com alma e dignidade.
Ele realizava trabalhos úteis à comunidade.
Mas esta vida calma não convinha a Xangô.
Ele adorava as viagens e as aventuras.
Assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum.
Ogum o terrível guerreiro,
Ogum o poderoso ferreiro.
Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades.
Ela ajudava Ogum em suas atividades.
Toda manhã, Iansã o acompanhava à forja
e o ajudava, carregando suas ferramentas.
Era ela, ainda, que acionava os sopradores para atiçar o fogo.
O vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku.
E Ogum batia sobre a bigorna: beng, beng, beng…
Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar.
Vez por outra, ele olhava para Iansã.
Iansã, também, espiava furtivamente Xangô.
Xangô era vaidoso e cuidava muito da sua aparência,
a ponto de trançar seus cabelos como os de uma mulher.
Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas.
Usava braceletes e colares de contas vermelhas e brancas.
Que elegância!
Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô,
Iansã fugiu com ele e tornou-se sua primeira mulher.
Xangô voltou por pouco tempo a Kossô,
seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó,
o reino fundado, antigamente, por seu pai Oranian.
O trono estava ocupado por um meio-irmão de Xangô, mais velho que ele,
chamado Dadá-Ajaká – rei pacífico, que amava a beleza e a arte.
Xangô instalou-se em Oyó, num novo bairro que chamou de Kossô.
E conservou, assim, seu título de Obá Kossô – “Rei de Kossô”.
Xangô guerreava para seu irmão Dadá.
O reino de Oyó expandia-se para os quatro cantos do mundo.
Ele se estendeu para o Norte.
Ele se estendeu para o Sul.
Ele se estendeu para o Leste e ele se estendeu para o Oeste.
Xangô, então, destronou seu irmão Dadá-Ajaká e fez-se rei em seu lugar.
“Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e Senhor do Mundo!”
Xangô construiu um palácio de cem colunas de bronze.
Ele tinha um exército de cem mil cavaleiros.
Vivia entre suas mulheres e seus filhos.
Iansã, sua primeira mulher, era bonita e ciumenta.
Oxum, sua segunda mulher, era coquete e dengosa.
Obá, sua terceira mulher, era robusta e trabalhadora.
Sete anos mais tarde, foi o fim do seu reino:
Xangô, acompanhado de Iansã, subira à colina Igbeti,
cuja vista dominava seu palácio de cem colunas de bronze.
Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios.
Baoummm!!!
A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio!
Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros.
Tudo havia desaparecido fulminado, espalhado e reduzido a cinzas.
Xangô, desesperado, seguido apenas de Iansã, voltou para Tapá.
Entretanto, chegando a Kossô, seu coração não suportou tanta tristeza.
Xangô bateu violentamente com os pés no chão e afundou-se terra adentro.
Iansã, solidária, fez o mesmo em Irá.
Oxum e Obá transformaram-se em rios
e todos tornaram-se orixás.
Xangô, orixá do trovão, Kawo Kabiyei Le!%BR%
Iansã, orixá das águas doces, Orê Yeyê ô!
Oiá-Iansã
Êpa Heyi!
Ogum foi um dia caçar na floresta.
Ele ficou na espreita e viu um búfalo vindo em sua direção.
Ogum avaliou logo a distância que os separava
e preparou-se para matar o animal com a sua espada.
Mas viu o búfalo parar e, de repente,
baixar a cabeça e despir-se de sua pele.
Desta pele saiu uma linda mulher.
Era Iansã, vestida com elegância, coberta de belos panos,
um turbante luxuoso amarrado à cabeça
e ornada de colares e braceletes.
Iansã enrolou sua pele e seus chifres,
fez uma trouxa e escondeu num formigueiro.
Partiu, em seguida, num passo leve, em direção ao mercado da cidade,
sem desconfiar que Ogum tinha visto tudo.
Assim que Iansã partiu, Ogum apoderou-se da trouxa,
foi para casa, guardou-a no celeiro de milho
e seguiu, também, para o mercado.
Lá, ele encontrou a bela mulher e cortejou-a.
Iansã era bela, muito bela, era a mais bela mulher do mundo.
Sua beleza era tal que se um homem a visse, logo a desejaria.
Ogum foi subjugado e pediu-a em casamento.
Iansã apenas sorriu e recusou sem apelo.
Ogum insistiu e disse-lhe que a esperaria.
Ele não duvidava de que ela aceitasse sua proposta.
Iansã voltou à floresta e não encontrou seu chifre nem sua pele.
“Ah! Que contrariedade! Que teria se passado? Que fazer?”
Iansã voltou ao mercado, já vazio, e viu Ogum que a esperava.
Ela perguntou-lhe o que ele havia feito daquilo que ela deixara no formigueiro.
Ogum fingiu inocência e declarou que nada tinha a ver,
nem com o formigueiro, nem com o que estava nele.
Iansã não se deixou enganar e disse-lhe:
“Eu sei que você escondeu minha pele e meu chifre.
Eu sei que você se negará a me revelar o esconderijo
Ogum, vou me casar com você e viver em sua casa.
Mas, existem certas regras de conduta para comigo.
Estas regras devem ser respeitadas, também, pelas pessoas da sua casa.
Ninguém poderá me dizer: Você é um animal!
Ninguém poderá utilizar cascas de dendê para fazer fogo.
Ninguém poderá rolar um pilão pelo chão da casa”.
Ogum respondeu que havia compreendido e levou Iansã.
Chegando em casa, Ogum reuniu suas outras mulheres e
explicou-lhes como deveriam comportar-se.
Ficara claro para todos que ninguém deveria discutir com Iansã,
nem insultá-la.
A vida organizou-se.
Ogum saía para caçar ou cultivar o campo.
Iansã, em vão, procurava sua pele e seus chifres.
Ela deu à luz a uma criança, depois um a segunda e uma terceira…
Ela deu à luz a nove crianças.
Mas as mulheres viviam enciumadas da beleza de Iansã.
Cada vez mais enciumadas e hostis,
elas decidiram desvendar o mistério da origem de Iansã.
Uma delas conseguiu embriagar Ogum com vinho de palma.
Ogum não pôde mais controlar suas palavras e revelou o segredo.
Contou que Iansã era, na realidade, um animal;
que sua pele e seus chifres estavam escondidos no celeiro de milho.
Ogum recomendou-lhes ainda:
“Sobretudo não procurem vê-los, pois isto a amedrontará.
Não lhes digam jamais que é um animal!”
Depois disso, logo que Ogum saía para o campo,
as mulheres insultavam Iansã:
“Você é um animal! Você é um animal!!”
Elas cantavam enquanto faziam os trabalhos da casa:
“Coma e beba, pode exibir-se, mas sua pele está no celeiro de milho!”
Um dia, todas as mulheres saíram para o mercado.
Iansã aproveitou-se e correu para o celeiro.
Abriu a porta e, bem no fundo, sob grandes espigas de milho,
encontrou sua pele e seus chifres.
Ela os vestiu novamente e se sacudiu com energia.
Cada parte do seu corpo retomou exatamente seu lugar dentro da pele.
Logo que as mulheres chegaram do mercado, ela saiu bufando.
Foi um tremendo massacre, pelo qual passaram todas.
Com grandes chifradas Iansã rasgou-lhes a barriga,
pisou sobre os corpos e redou-os no ar.
Iansã poupou seus filhos que a seguiam chorando e dizendo:
“Nossa mãe, nossa mãe! É você mesma?
Nossa mãe, nossa mãe!! Que você vai fazer?
Nossa mãe, nossa mãe!!! Que será de nós?”
O búfalo os consolou, roçando seu corpo carinhosamente no deles e dizendo-lhes:
“Eu vou voltar para a floresta; lá não é um bom lugar para vocês.
Mas, vou lhes deixar uma lembrança.”
Retirou seus chifres, entregou-lhes e continuou:
“Quando qualquer perigo lhes ameaçar,
quando vocês precisarem dos meus conselhos,
esfreguem estes chifres um no outro.
Em qualquer lugar que vocês estiverem,
em qualquer lugar que eu estiver,
escutarei suas queixas e virei socorrê-los.”
Eis porque dois chifres de búfalo estão sempre no altar de Iansã.
Oxum
Orê Yeyê ô!
Oxum era muito bonita, dengosa e vaidosa.
Como são, geralmente, as belas mulheres.
Ela gostava de panos vistosos, marrafas de tartaruga,
e tinha, sobretudo, uma grande paixão pelas joias de cobre.
Antigamente, este metal era muito precioso na terra dos iorubas.
Só uma mulher elegante possuía joias de cobre pesadas.
Oxum era cliente dos comerciantes de cobre.
Omiro wanran wanran wanran omi ro!
“A água corre fazendo o ruído dos braceletes de Oxum!”
Oxum lavava suas joias antes mesmo de lavar suas crianças.
Mas tem, entretanto, a reputação de ser uma boa mãe
e atende as súplicas das mulheres que desejam ter filhos.
Oxum foi a segunda mulher de Xangô.
A primeira chamava-se Oiá-Iansã e a terceira Obá.
Oxum tem o humor caprichoso e mutável
Alguns dias, suas águas correm aprazíveis e calmas,
elas deslizam com graça, frescas e límpidas,
entre margens cobertas de brilhante vegetação.
Numerosos vãos permitem atravessar de um lado a outro.
Outras vezes, suas águas tumultuadas passam estrondando,
cheias de correntezas e torvelinhos,
transbordando e inundando campos e florestas.
Ninguém pode atravessar de uma margem para a outra,
pois nenhuma ponte faz a ligação.
Oxum não toleraria uma tal ousadia!
Quando ela está em fúria, ela leva para longe
e destrói as canoas que tentam atravessar o rio.
Olowu, o rei de Owu, ia para a guerra seguido de seu exército.
Por infelicidade, tinha que atravessar o rio,
num dia em que este estava enfurecido.
Olowu fez a Oxum uma promessa solene, entretanto, mal formulada.
Ele declarou:
“Se você baixar o nível das águas,
para que eu possa atravessar e seguir para a guerra,
e se eu voltar vencedor,
prometo a você nhan rere”, isto é, boas coisas.
Oxum compreendeu que ele falava de sua mulher, Nkan, filha do rei de Ibadan.
Ela baixou o nível das águas e Olowu continuou sua expedição.
Quando ele voltou, algum tempo depois,
vitorioso e com um espólio considerável,
novamente encontrou Oxum com o humor perturbado.
O rio estava turbulento e com suas águas agitadas.
Olowu mandou jogar sobre as vagas toda a sorte de boas coisas,
as nkan rere prometidas:
tecidos, búzios, bois, galinhas e escravos;
mel de abelhas e pratos de mulukun, iguaria onde misturam-se suavemente
cebola, feijão fradinho, sal e camarões.
Mas Oxum devolveu todas estas coisas boas sobre as margens.
Era Nkan, a mulher de Olowu, que ela exigia.
Olowu foi obrigado a submeter-se e jogar a sua mulher nas águas.
Nkan estava grávida e a criança nasceu no fundo do rio.
Oxum, escrupulosamente, devolveu o recém-nascido dizendo:
“É Nkan que me foi solenemente prometida e não a criança. Tome-a!”
As águas baixaram e Olowu voltou tristemente para sua terra.
O rei de Ibadan, sabendo do fim trágico de sua filha, declarou indignado:
“Não foi para que ela servisse de oferenda a um rio
que eu a dei em casamento a Olowu!”
Ele guerreou com o genro e o expulsou do país.
O rio Oxum passa em um lugar onde suas águas são sempre abundantes.
Por esta razão é que Larô, o primeiro rei deste lugar,
aí instalou-se e fez um pacto de aliança com Oxum.
Na época em que chegou, uma das suas filhas fora banhar-se.
O rio a engoliu sob as águas.
Ela só saiu no dia seguinte, soberbamente vestida,
e declarou que Oxum a havia bem acolhido no fundo do rio.
Larô, para mostrar sua gratidão, veio trazer-lhe oferendas.
Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer,
em sinal de aceitação, os alimentos jogados nas águas.
Um grande peixe chegou nadando nas proximidades do lugar onde estava Larô.
O peixe cuspiu água, que Larô recolheu numa cabaça e bebeu,
fazendo assim, um pacto com o rio.
Em seguida, ele estendeu suas mãos sobre a água
e o grande peixe saltou sobre ela.
Isto é dito em ioruba: Atewo gbá ejá.
O que deu origem a Ataojá, título dos reis do lugar.
Ataojá declarou então:
Oxum bgô!
“Oxum está em estado de maturidade, suas águas são abundantes.”
Dando origem ao nome da cidade d Oxogbô.
Todos os anos faz-se, aí, grandes festas
em comemoração a todos estes acontecimentos.
Obá
Obá Siré
Obá era uma mulher cheia de vigor e coragem.
Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento.
Mas ela não temia ninguém no mundo.
Seu maior prazer era lutar.
Seu vigor era tal que ela escolheu a luta e o pugilato como profissão.
Obá venceu todas as disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás.
Ela derrubou Obatalá, tirou Oxóssi de combate
e deixou no chão Orunmilá.
Oxumaré não resistiu à sua força.
Ela desafiou Obaluaê e botou Exu pra correr.
Chegou a vez de Ogum!
Ogum teve o cuidado de consultar Ifá, antes da luta.
Os adivinhos lhe disseram para fazer oferendas,
compostas de duzentas espigas de milho e muitos quiabos.
Tudo pisado num pilão para se obter uma massa viscosa e escorregadia.
Esta substância deveria ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam.
Ogum seguiu fielmente estas instruções.
Na hora da luta, Obá chegou dizendo:
“O dia do encontro é chegado.”
Ogum confirmou:
“Nós lutaremos, então, um contra o outro.”
A luta começou.
No início, Obá parecia dominar a situação.
Ogum recuou em direção ao lugar onde ele derramara a oferenda.
Obá pisou na pasta viscosa e escorregou.
Ogum aproveitou para derrubá-la.
Rapidamente, libertou-se do pano que vestia e a possuiu ali mesmo,
tornando-se, desta maneira, seu primeiro marido.
Mais tarde, Obá tornou-se a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa.
A primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã, que era bela e fascinante.
A segunda foi Oxum, que era coquete e vaidosa.
Uma rivalidade logo se estabeleceu entre Obá e Oxum.
Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô.
Obá sempre procurava aprender o segredo das receitas utilizadas por Oxum
quando esta preparava as refeições de Xangô.
Oxum irritada, decidiu preparar-lhe uma armadilha.
Convidou Obá a vir, um dia de manhã, assistir à preparação de um prato que,
segundo ela, agradava infinitamente a Xangô.
Obá chegou na hora combinada e encontrou Oxum
com um lenço amarrado à cabeça, escondendo as orelhas.
Ela preparava uma sopa para Xangô
onde dois cogumelos flutuavam na superfície do caldo.
Oxum convenceu Obá que se tratava de suas orelhas,
que ela cozinhava, desta forma,
para preparar o prato favorito de Xangô.
Este logo chegou, vaidoso e altivo.
Engoliu, ruidosamente e com deleite, a sopa de cogumelos e
galante e apressado, retirou-se com Oxum para o quarto.
Na semana seguinte, foi a vez de Obá cuidar de Xangô.
Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa.
Xangô não sentiu nenhum prazer ao ver que Obá se cortara uma das orelhas.
Ele achou repugnante o prato que ela preparara.
Neste momento, Oxum chegou e retirou o lenço,
mostrando à sua rival que suas orelhas não haviam sido cortadas, nem comidas.
Furiosa, Obá precipitou-se sobre Oxum com impetuosidade.
Uma verdadeira luta se seguiu.
Enraivecido, Xangô trovejou sua fúria.
Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e transformaram-se em rios.
Até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e agitadas no lugar de sua confluência,
em lembrança da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.
Yemanjá
Odô Iyá Yemanjá Ataramagbá
ajejê Lodô, ajejê nilê!
Iemanjá era a filha de Olokun, a deuda do mar.
Em Ifé, ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua,
com o qual teve dez filhos.
Estas crianças receberam nomes simbólicos e todos tornaram-se orixás.
Um deles foi chamado Oxumaré, o Arco-Íris,
“aquele-que-se desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos.”
De tanto amamentar seus filhos, os seios de Iemanjá tornaram-se imensos.
Cansada da sua estadia em Ifé,
Iemanjá fugiu na direção do “entardecer-da-terra”,
como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá.
Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki.
Iemanjá continuava muito bonita.
Okere desejou-a e propôs-lhe casamento.
Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:
“Jamais você ridicularizará da imensidão dos meus seios.”
Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito.
Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.
Voltou para casa bêbado e titubeante.
Ele não sabia mais o que fazia.
Ele não sabia mais o que dizia.
tropeçando em Iemanjá, esta chamou-o de bêbado e imprestável.
Okere, vexado, gritou:
“Você, com seus seios compridos e balançantes!
Você, com seus seios grandes e trêmulos!”
Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.
Certa vez, antes do seu primeiro casamento,
Iemanjá recebera de sua mãe, Olokun,
uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta:
“Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.
Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão.”
Em sua fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.
A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio.
As águas tumultuadas deste rio levaram Iemanjá em direção ao oceano,
residência de sua mãe Olokun.
Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher.
Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina,
chamada ainda hoje, Okere, e colocou-se no seu caminho.
Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se para a direita.
Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se para a esquerda.
Iemanjá, vendo assim bloqueado seu caminho para a casa materna,
chamou Xangô, o mais poderoso dos seus filhos.
Kawo Kabiyesi Sango, Kawo Kabiyesi Obá Kossô!
“Saudemos o Rei Xangô, saudemos o Rei de Kossô!”
Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder.
Ele pediu uma oferenda de um carneiro e quatro galos,
um prato de “amalá”, preparado com farinha de inhame,
e um prato de “gbeguiri”, feito com feijão e cebola.
E declarou que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.
Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras sa chuva.
Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.
Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.
Quando todas elas estavam reunidas, chegou Xangô com seu raio.
Ouviu-se então: Kakará rá rá rá…
Ele havia lançado seu raio sobre a colina Okere.
Ela abriu-se em duas e, suichchchch…
Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokun.
Aí ficou e recusa-se, desde então, a voltar em terra.
Seus filhos chamam-na e saúdam-na:
“Odô Iyá, a Mãe do rio, ela não volta mais.
Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas.”
Ela tem filhos no mundo inteiro.
Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes.
Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.
Odô Iyá, yemanjá, Ataramagbá
Ajejê lodô! Ajejê nilê!
“Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.
Paz nas águas! Paz na casa!”
Oxumaré
Arrobobôi!
Oxumaré era, antigamente, um adivinho (babalaô).
O adivinho do rei Oni.
Sua única ocupação era ir ao palácio real no “dia do segredo”;
dia que dá início à semana de quatro dias dos iorubas.
O rei Oni não era um rei generoso.
Ele dava apenas, a cada semana,
uma quantia irrisória a Oxumaré que,
por esta razão, vivia na miséria com a sua família.
O pai de Oxumaré tinha um belo apelido.
Chamavam-no “o proprietário do xale de cores brilhantes”.
Mas, tal como seu filho, ele não tinha poder.
As pessoas da cidade não o respeitavam.
Oxumaré, magoado com esta triste situação, consultou Ifá.
“Como tornar-se rico, respeitado,
conhecido e admirado por todos?”
Ifá o aconselhou a fazer oferendas.
Disse-lhe que oferecesse
uma faca de bronze, quatro pombos e
quatro sacos de búzios da costa.
No momento que Oxumaré fazia estas oferendas,
o rei mandou chamá-lo.
Oxumaré respondeu:
“Pois não, chegarei tão logo tenha terminado a cerimônia”.
O rei, irritado pela espera, humilhou Oxumaré,
recriminou-o e negligenciou, até,
a remessa de seus pagamentos habituais.
Entretanto, voltando à sua casa,
Oxumaré recebeu um recado:
Olokum, a rainha de um país vizinho, desejava consultá-lo
a respeito de seu filho, que estava doente.
Ele não podia manter-se de pé, caía,
rolava no chão e queimava-se nas cinzas do fogareiro.
Oxumaré dirigiu-se à corte da rainha Olokum
e consultou Ifá para ela.
Todas as doenças da criança foram curadas.
Olokum, encantada com este resultado,
recompensou Oxumaré.
Ela ofereceu-lhe uma roupa azul, feita de um rico tecido.
Ela deu-lhe muitas riquezas, servidores e um cavalo,
com o qual Oxumaré retornou à sua casa, em grande estilo.
Um escravo fazia rodopiar um guarda-sol sobre a sua cabeça
e músicos cantavam seus louvores.
Oxumaré foi saudar o rei.
O rei Oni ficou surpreso e disse-lhe:
“Oh! De onde viestes?
De onde saíram todas estas riquezas?”
Oxumaré respondeu-lhe a rainha Olokum o havia consultado.
“Ah! Foi então Olokum que fez tudo isto por você!”
Estimulado pela rivalidade,
o rei Oni ofereceu a Oxumaré uma roupa do mais belo vermelho,
acompanhada de muitos outros presentes.
Assim, Oxumaré tornou-se rico e respeitado.
Entretanto, Oxumaré era amigo de Chuva.
Quando Chuva reunia as nuvens,
Oxumaré agitava sua faca de bronze
e a apontava em direção ao céu,
como se riscasse de um lado a outro.
O arco-íris aparecia e Chuva fugia.
Todos gritavam: “Oxumaré apareceu!”
Oxumaré tornou-se muito célebre.
Nesta época, Olodumaré o deus supremo,
aquele que estende a esteira real em casa
e caminha na chuva,
começou a sofrer da vista e nada mais enxergava.
Ele mandou chamar Oxumaré
e o mal dos seus olhos foram curados.
Depois disto, Olodumaré não deixou mais que Oxumaré retornasse à Terra.
Desde este dia, é no céu que ele mora
e só tem permissão de visitar a Terra a cada três anos.
É durante estes anos que as pessoas tornam-se ricas e prósperas.
Obaluaê
Atotô!
Xapanã nasceu em Empê, no território Tapá, também chamado Nupê.
Era um guerreiro terrível que, seguido de suas tropas,
percorria o céu e os quatro cantos do mundo.
Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem.
Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste.
assim, chegou Xapanã em território Mahi, no Daomé.
A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalu e Dassa Zumê.
Quando souberam da chegada iminente de Xapanã,
os habitantes desta região, apavorados, consultaram um adivinho.
E assim ele falou:
“Ah! O grande guerreiro chegou de Empê!
Aquele que se tornará o senhor do país!
Aquele que tornará esta terra rica e próspera, chegou!
Se o povo não aceitá-lo, ele o destruirá!
É necessário que supliquem a Xapanã que vos poupe.
Façam-lhe muitas oferendas; todas as que ele goste:
inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, picadinho de carne de bode
e muita, muita pipoca!
Será necessário, também,
que todos se curvem diante dele,
que o respeitem e o sirvam.
Desde que o povo o reconheça como pai,
Xapanã não o combaterá, mas protegerá a todos!”
Quando Xapanã chegou, conduzindo seus ferozes guerreiros,
os habitantes de Savalu e Dassa Zumê reverenciaram-no,
encostando suas testas no chão, e saudaram-no:
Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô!
“Respeito e submissão!”
Xapanã aceitou os presentes e as homenagens, dizendo:
“Está bem! Eu os pouparei!
Durante minhas viagens, desde Empê, minha terra natal,
sempre encontrei desconfiança e hostilidade.
Construam para mim um palácio.
É aqui que viverei à partir de agora!”
Xapanã instalou-se assim entre os mahis.
O país prosperou e enriqueceu,
e o grande guerreiro não voltou mais a Empê,
no território Tapá, também chamado Nupê.
Xapanã é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas.
Ele tem, também, o poder de curar.
As doenças contagiosas são, na realidade,
punições aplicadas àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.
Seu verdadeiro nome, é perigoso demais pronunciar.
Por prudência, é preferível chamá-lo Obaluaê, O “Rei Senhor da Terra”
ou Omulu, o “Filho do Senhor”.
Quando Xapanã instalou-se entre os mahis,
recebeu, em uma nova terra, o nome de Sapatá.
Aí também, era preferível chamá-lo Ainon, o “Senhor da Terra”,
ou, então, Jeholu, o “Senhor das Pérolas”.
O fato de ser chamado Jeholu e Ainon
causou mal-entendidos entre Sapatá e os reis do Daomé,
pois eles também usavam estes títulos.
Enciumados, os Jeholu de Abomey expulsaram, várias vezes,
Jeholu Ainon do Daomé e obrigaram-no a voltar,
transitoriamente, à terra dos mahis.
Jeholu Ainon vingou-se:
vários reis daomeanos morreram de varíola!
*Atotô!*
Oxalufã (Oxalá Velho)
Êpa Baba!
Oxalufã era o rei de Ilu-ayê, a terra dos ancestrais, na longínqua África.
Ele estava muito velho, curvado pela idade e andava com dificuldade,
apoiado num grande cajado, chamado opaxorô.
Um dia, Oxalufã decidiu viajar em visita a seu velho amigo Xangô, rei de Oyó.
Antes de partir, Oxalufã consultou um babalaô, o adivinho,
perguntando-lhe se tudo ia correr bem e se a viagem seria feliz.
O babalaô respondeu-lhe:
“Não faça esta viagem!
Ela será cheia de incidentes desagradáveis e acabará mal.”
Mas, Oxalufã tinha um temperamento obstinado,
quando fazia um projeto, nunca renunciava.
Disse, então, ao babalaô:
“Decidi fazer esta viagem e eu a farei, aconteça o que acontecer!”
Oxalufã perguntou ainda ao babalaô,
se oferendas e sacrifícios melhorariam as coisas.
Este respondeu-lhe:
“Qualquer que sejam suas oferendas, a viagem será desastrosa.”
E fez ainda algumas recomendações:
“Se você não quiser perder a vida durante a viagem,
deverá aceitar fazer tudo que lhe pedirem.
Você não deverá queixar-se das tristes consequências que advirão.
Será necessário que você leve três panos brancos.
Será necessário que você leve, também, sabão e limo da costa.”
Oxalufã partiu, então, lentamente, apoiado no seu opaxorô.
Ao cabo de algum tempo, ele encontra Exu Elepô, Exu “dono do azeite de dendê.”
Exu estava sentado à beira da estrada, com um grande pote cheio de dendê.
“Ah! Bom dia Oxalufã, como vai a família?”
“Oh! Bom dia Exu Elepô, como vai também a sua?”
“Ah! Oxalufã, ajude-me a colocar este pote no ombro.”
“Sim, Exu, sim, sim, com prazer e logo.”
Mas de repente, Exu Elepô virou o pote sobre Oxalufã.
Oxalufã, seguindo os conselhos do babalaô, ficou calmo e nada reclamou.
foi limpar-se no rio mais próximo.
Passou o limo da costa sobre o corpo e vestiu-se com um novo pano;
àquele que usava ficou perto do rio, como oferenda.
Oxalufã retomou a estrada, andando com lentidão, apoiado no seu opaxorô.
Duas vezes mais ele encontrou-se com Exu.
Uma vez, com Exu Onidu, Exu “dono do carvão”;
Outra vez, com Exu Aladi, Exu “dono do óleo do caroço de dendê.”
Duas vezes mais, Oxalufã foi vítima das armadilhas de Exu,
ambas semelhantes à primeira.
Duas vezes mais, Oxalufã sujeitou-se às consequências.
Exu divertiu-se às custas dele,
sem que, contudo, conseguisse tirar-lhe a calma.
Oxalufã trocou, assim, seus últimos panos,
deixando na margem do rio os que usava, como oferendas.
E continuou corajosamente seu caminho, apoiado em seu opaxorô,
até que passou a fronteira do reino de seu amigo Xangô.
*Kawo Kabiyesi, Sango, Alafin Oyó, Alayeluwa!
“Saudemos Xangô, Senhor do Palácio de Oyó, Senhor do Mundo!”*
Logo, Oxalufã avistou um cavalo perdido que pertencia a Xangô.
Ele conhecia o animal, pois havia sido ele que, há tempo, lhe oferecera.
Oxalufã tentou amansar o cavalo, mostrando-lhe uma espiga de milho,
para amarrá-lo e devolvê-lo a Xangô.
Neste instante, chegaram correndo os empregados do palácio.
Eles estavam perseguindo o animal e gritaram:
“Olhem o ladrão de cavalo!
Miserável, imprestável, amigo do bem alheio!
Como os tempos mudaram; roubar com esta idade!!
Não há mais anciãos respeitáveis! Quem diria? Quem acreditaria?”
Caíram todos sobre Oxalufã, cobrindo-o de pancadas.
Eles o agarraram e arrastaram até a prisão.
Oxalufã, lembrando-se das recomendações do babalaô,
permaneceu quieto e nada disse.
Ele não podia vingar-se.
Usou então dos seus poderes, do fundo da prisão.
Não choveu mais, a colheita estava comprometida, o gado dizimado;
as mulheres estéreis, as pessoas eram vitimadas por doenças terríveis.
Durante sete anos o reino de Xangô foi devastado.
Xangô, por sua vez, consultou um babalaô,
para saber a razão de toda aquela desgraça.
“Kabiyesi Xangô, respondeu-lhe o babalaô,
tudo isto é consequência de um ato lastimável.
Um velho sofre injustamente, preso há sete anos.
Ele nunca se queixou, mas não pense no entanto…
Eis a fonte de todas as desgraças!”
Xangô fez vir diante dele o tal ancião.
“Ah! Mas vejam só!” – gritou Xangô.
“É você, Oxalufã! Êpa Baba! Exê ê!
Absurdo! É inacreditável, vergonhoso, imperdoável!!!
Ah! você Oxalufã, na prisão! Êpa Baba!!
Não posso acreditar e, ainda por cima,
preso por meus próprios empregados!
Hei! Todos vocês!
Meus generais!
Meus cavaleiros, meus eunucos, meus músicos!
Meus mensageiros e chefes de cavalaria!
Meus caçadores!
Minhas mulheres, as ayabás!
Hei! Povo de Oyó!
Todos e todas, vesti-vos de branco em respeito ao rei que veste branco!
Todos e todas, guardai o silêncio em sinal de arrependimento!
Todos e todas, vão buscar água no rio!
É preciso lavar Oxalufã!
Êpa Baba! Êpa, Êpa!
É preciso que ele nos perdoe a ofensa que lhe foi feita!!”
Este episódio da vida de Oxalufã é comemorado, a cada ano,
em todos os terreiros de candomblé da Bahia, no dia das “Águas de Oxalá” –
quando todo mundo veste-se de branco e vai buscar água em silêncio,
para lavar os axés, objetos sagrados de Oxalá.
Também, com a mesma intenção, todos os anos, numa quinta-feira,
uma multidão lava o chão da basílica dedicada ao Senhor do Bonfim que,
para os descendentes de africanos dos outros tempos
e seus descendentes de hoje, é Oxalufã.
*Êpa, Êpa Baba!!!*
OXAGUIÃ (Oxalá Novo)
Exê êêê!
Oxaguiã era o filho de Oxalufã.
Ele nasceu em Ifé, bem antes de seu pai tornar-se o rei de Ifan.
Oxaguiã, valente guerreiro, desejou, por sua vez, conquistar um reino.
Partiu, acompanhado de seu amigo Awoledjê.
Oxaguiã não tinha ainda este nome. Chegou num lugar chamado Ejigbô e aí tornou-se Elejigbô (Rei de Ejigbô). Oxaguiã tinha uma grande paixão por inhame pilado, comida que os iorubás chamam iyan. Elejigbô comia deste iyan a todo momento; comia de manhã, ao meio-dia e depois da sesta; comia no jantar e até mesmo durante a noite, se sentisse fazio seu estômago! Ele recusava qualquer outra comida, era sempre iyan que devia ser-lhe servido.
Chegou ao ponto de inventar o pilão para que fosse preparado seu prato predileto! Impressionados pela sua mania, os outros orixás deram-lhe um cognome: Oxaguiã, que significa “Orixá-comedor-de-inhame-pilado”, e assim passou a ser chamado.
Awoledjê, seu companheiro, era babalaô, um grande advinho, que o aconselhava no que devia ou não fazer. Certa ocasião, Awoledjê aconselhou a Oxaguiã oferecer: dois ratos de tamanho médio; dois peixes, que nadassem majestosamente; duas galinhas, cujo fígado fosse bem grande; duas cabras, cujo leite fosse abundante; duas cestas de caramujos e muitos panos brancos. Disse-lhe, ainda, que se ele seguisse seus conselhos, Ejigbô, que era então um pequeno vilarejo dentro da floresta, tornar-se-ia, muito em breve, uma cidade grande e poderosa e povoada de muitos habitantes.
Depois disso Awoledjê partiu em viagem a outros lugares. Ejigbô tornou-se uma grande cidade, como previra Awoledjê. Ela era arrodeada de muralhas com fossos profundos, as portas fortificadas e guardas armados vigiavam suas entradas e saídas.
Havia um grande mercado, em frente ao palácio, que atraía, de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias e escravos. Elejigbô vivia com pompa entre suas mulheres e servidores. Músicos cantavam seus louvores. Quando falava-se dele, não se usava seu nome jamais, pois seria falta de respeito. Era a expressão Kabiyesi, isto é, Sua Majestade, que deveria ser empregada.
Ao cabo de alguns anos, Awoledjê voltou. Ele desconhecia, ainda, o novo esplendor de seu amigo. Chegando diante dos guardas, na entrada do palácio, Awoledjê pediu, familiarmente, notícias do “Comedor-de-inhame-pilado”. Chocados pela insolência do forasteiro, os guardas gritaram: “Que ultraje falar desta maneira de Kabiyesi! Que impertinência! Que falta de respeito!” E caíram sobre ele dando-lhe pauladas e cruelmente jogaram-no na cadeia.
Awoledjê, mortificado pelos maus tratos, decidiu vingar-se, utilizando sua magia. Durante sete anos a chuva não caiu sobre Ejigbô, as mulheres não tiveram mais filhos e os cavalos do rei não tinham pasto. Elejigbô, desesperado, consultou um babalaô para remediar esta triste situação. “Kabiyesi, toda esta infelicidade é consequência da injusta prisão de um dos meus confrades! É preciso soltá-lo, Kabiyesi! É preciso obter o seu perdão!”
Awoledjê foi solto e, cheio de ressentimento, foi-se esconder no fundo da mata. Elejigbô, apesar de rei tão importante, teve que ir suplicar-lhe que esquecesse os maus tratos sofridos e o perdoasse.
“Muito bem! – respondeu-lhe. Eu permito que a chuva caia de novo, Oxaguiã, mas tem uma condição: Cada ano, por ocasião de sua festa, será necessário que você envie muita gente à floresta, cortar trezentos feixes de varetas. Os habitantes de Ejigbô, divididos em dois campos, deverão golpear-se, uns aos outros, até que estas varetas estejam gastas ou quebrem-se”.
Desde então, todos os anos, no fim da sêca, os habitantes de dois bairros de Ejigbô, aqueles de Ixalê Oxolô e aqueles de Okê Mapô, batem-se todo um dia, em sinal de contrição e na esperança de verem, novamente, a chuva cair.
A lembrança deste costume conservou-se através dos tempos e permanece viva, tanbém, na Bahia.
Por ocasião das cerimônias em louvor a Oxaguiã, as pessoas batem-se umas nas outras, com leves golpes de vareta… e recebem, em seguida, uma porção de inhame pilado, enquanto Oxaguiã vem dançar com energia, trazendo uma mão de pilão, símbolo das preferências gastronômicas do Orixá “Comedor-de-inhame-pilado.”
*Exê ê! Baba Exê ê!*