Os atabaques e os Orixás
Os tambores tem um alto poder mágico e ao tocá-los expressam a consagração espiritual. Eles ligam os iniciados às divindades, o profano ao sagrado.
Para a raça negra, o atabaque representa o Logos: ao mesmo tempo rei, artesão, guerreiro ou caçador, como se em uma voz múltipla, o ritmo vital da alma estivesse reunido nos momentos do toque.
No Brasil, especialmente nos terreiros de candomblé, verificamos a presença fundamental dos atabaques e dos ogãs padrinhos do culto africano ou brasileiro, ou seja, homens que tocam os atabaques sagrados, cuja missão é a de chamar as divindades para que seus adeptos entrem em transe.
São três tambores Ru, Rumpi, Le (pequeno, médio e grande) medindo entre 70 a 80 centímetros de comprimento e colocados na posição horizontal sobre um cavalete. Eles passam por uma série de estágios: purificação, preparação e conservação, feitos por ogãs. Geralmente estão localizados ao lado do ronkó (quarto onde se inicia os adeptos). Nenhum visitante pode permanecer neste local.
Nos dias em que não são realizadas as festas, os atabaques são cobertos com um pano branco, simbolizando o respeito.
É inadmissível que um convidado toque ou improvise algum tipo de som. O cuidado tem um fundamento religioso. Os sons produzidos possuem qualidades especiais, já que representam o caminho, a voz que invoca os orixás a saírem de seu universo para incorporarem em seus adeptos, por isso, são tão respeitados. Muitos acreditam que o som produzido por eles seja a própria voz das divindades.
O ogã não se limita apenas a produzir sons. Ele passa por um ritual de iniciação que se inicia aos 8, 10 anos, perdurando por toda a vida. No dia da festa, ele passa por um processo de purificação antes de tocar seu instrumento sagrado: toma um banho com ervas próprias, além de respeitar algumas proibições alimentares. Também solicita a proteção do seu orixá protetor, colocando diante do altar as oferendas que agradam ao seu deus pessoal.
Durante uma festa, é impossível não olhar para os ogãs e seus atabaques. Além dos espectadores, os iniciados também estão constantemente olhando para eles, porque, dependendo do som, entrarão em transe.
Quando o orixá está em terra, a divindade vai até os atabaques para reverenciá-los, demonstrando seus apreço aos músicos. Dependendo do orixá, o ritmo é acelerado e a festa chega ao auge.
Depois, o orixá agradece aos ogãs pelo seus esforços. Pelo fato de eles terem a missão de trazer os deuses africanos para o espaço mágico tocando os tambores míticos, todos os frequentadores expressam um enorme respeito aos ogãs.