Patrick Drouot
Na metade dos anos 60, o xamanismo interessava fundamentalmente aos especialistas da psicologia transpessoal – uma disciplina de vanguarda que procurava estudar os estados de consciência mística veiculados pelo conjunto das tradições da humanidade. Para os antropólogos, etnólogos e historiadores das religiões, o xamanismo era uma forma primitiva de religião, suplantada e superada pelas culturas hierarquizadas modernas.
Há cerca de 20 anos, os livros de M. Harner e Castañeda (especialmente este) abriram a consciência de indivíduos em busca de desenvolvimento pessoal e espiritual para as idéias, crenças, inspirações e experiências diretas dos xamãs.
Desejosas de reatar com a tradição xamânica e ajudá-las a voltar a tornar-se uma autêntica via de transformação, cada vez mais pessoas exploram seus estados alterados de consciência para alcançar o conhecimento e a sabedoria do mundo oculto atrás do mundo. Desde os fins dos anos 80, esse “neoxamanismo” ancora-se na sociedade ocidental, especialmente na América do Norte, onde muitos buscam suas raízes tradicionais. O recurso aos cantos sagrados acompanhados de instrumentos de percussão, chocalhos e tambores, ou aos “animais totens” descobertos por meio de viagens em níveis de consciência diferente, voltaram a ser práticas bastante correntes.
O xamanismo, tanto em sua forma mais primitiva quanto na mais moderna, recupera o aspecto democrático da vida espiritual: as forças sutis da natureza manifestam-se em experiências espirituais. Cada dimensão da realidade está disponível àquele que realiza o esforço de aprender a prática da viagem e os diferentes meios de consegui-lo. Assim a via xamânica permite o indivíduo a viver uma experiência direta.
O papel principal do xamã servir de mediador, de intercessor entre o sagrado e o profano, entre o nosso plano físico e além. O xamanismo é uma concentração de conceitos e técnicas psíquicas que, ao longo das idades foram desenvolvidos por um grupo particular, por povos que se espalharam em cada continente. Numa época em que o ser humano se sentia inevitavelmente inferior ao meio ambiente, ele tentou entrar em harmonia com aquele, e escutar as mensagens dos povos mineral, animal e vegetal, com isso enriquecendo sua força psíquica. Todavia essa aptidão acabou por perder-se ou, mais exatamente, por refugiar-se entre indivíduos particulares: os xamãs.
Os xamãs representam a categoria dos visionários que recorrem aos transes e às visões. Visitam, em espírito, lugares longínquos para atrair um espírito guardião. É a viagem da alma, característica do verdadeiro xamanismo, que permitirá ao ser investido identificar a causa de uma doença e o remédio apropriado.