Plantas de Poder
Deus disse:
“Eis que vos dou toda a erva que dá semente sobre a Terra e todas as árvores frutíferas, contendo em sí mesmas a sua semente, para que vos sirva de alimento”
Genesis 1,29
Das plantas se obtém os princípios ativos empregados nos medicamentos. Deus nos uma completa fármácia natural. Umas alimentam, outras nos perfumam, outras nos purificam, nos calmam, nos dão prazer, etc. Porém, algumas plantas transportam a mente humana a regiões de maravilhas espirituais, alterando a nossa consciência, levando-nos ao Mundo Profundo, reconectando-nos com os nossos ancestrais.
A pergunta que os vegetalistas mais encontram é a seguinte:
– Para que é necessário tomar uma substância para encontrar a Deus ? Essa cansativa pergunta pode ser respondida por respostas cansativas, tais como :
O que seria do vermelho, se todos gostassem do azul ?
A casa do Meu Pai tem muitas moradas…
Todos os caminhos nos levam a Deus…. e por aí vai..
Quero começar tirando os rótulos: alucinógeno, drogas…
O uso de Plantas Sagradas vem fazendo parte da experiência humana há milênios. Não podem nunca serem confundidas com drogas que causam a dependência e colocam em risco a saúde de quem as usa. A Planta é criação de Deus, a droga é uma criação humana.
As Plantas de Poder são ingeridas em rituais. Obedecem a preceito mágico-religiosos e proporcionam cura, autoconhecimento, expansão da consciência.
Com as obras de Castañeda, abriu-se uma porta para a observação do uso de plantas de poder, para a expansão da consciência, mas há sinais de sua utilização em Escrituras Sagradas. Sabe-se por exemplo que os sacerdotes védicos se utilizavam do Soma para entrar em contato com o Reino Celestial, que o Rei Salomão era mestre no conhecimento de algumas plantas de poder. Os druidas tomavam uma poção que lhes conferia força e coragem, mas, foi entre os primitivos, os indígenas que se têm um relato mais preciso de sua utilização.
Conhecidas atualmente como plantas enteógenas ( entheos = Deus dentro ) são também reconhecidas como; Plantas Mestres, Plantas Professoras, Plantas de Conhecimento, Plantas de Poder, Plantas Sagradas.
As plantas de Poder, em suas diferentes espécies, participaram e participam de cerimônias rituais em todos os continentes. Com o advento das obras de Castañeda, abriu-se uma porta para a observação do uso de plantas para expansão da consciência, porém há sinais de sua utilização em muitas escrituras sagradas.
Atualmente, existem comunidades religiosas que se utilizam de Plantas de Poder, como sacramento de seus rituais tais como; a Igreja Nativa Americana que se utiliza do Peiote ( Don Juan ) ; o Catimbó, da Jurema; a Ganja entre os Rastafaris, O Santo Daime, a União Vegetal, e a Barquinha, da bebida Sacramental conhecida no Peru como Ayauasca, e nas matas brasileiras com os nomes; iagé, nixi honi xuma, caapi.
As Plantas de Poder aumentam a percepção, a acuidade visual e auditiva, e transportam o praticante para outras camadas vibracionais ou dimensões. A experiência é individual, algumas pessoas tem visões, outras canalizam mensagens, fazem regressões, recebem insights, recebem soluções para seus problemas com maior claridade, percebem as causas de suas doenças, recebem cura, se conectam a arquétipos, aos mitos, aos medos, traumas, símbolos que estão no inconsciente coletivo, visualizam entidades, viajam astralmente, etc..
O uso ritualístico de Plantas de Poder, proporciona, sem dúvida, uma experiência místico-religiosa de beleza incomparável, proporcionando o samadhi, o êxtase, o nirvana, o encontro com o Eu Superior, o transe.
Gostaria de ressaltar uma pequena preocupação com relação ao uso de cogumelos e plantas sagradas, sabemos que estas plantas foram utilizadas por nossos ancestrais. Nós civilizados, que temos uma alimentação cheia de aditivos químicos, onde reina, por exemplo, esse mundo dos refrigerantes, principalmente as “colas”, sei que nossos organismos não são puros e contaminados por corantes, conservantes, agrotóxicos e etc…
Será que os nossos ancestrais suportavam melhor estas plantas pois seus organismos eram mais puros e naturais?
É óbvio que se observamos uma dieta, a experiência torna-se mais plena. E isso acontece na medicina também. Nos pós-operatório os médicos já vão recomendando uma certa dieta, na recuperação dos pacientes também há dietas. Porém, cada organismo é um. Eu conheço casos de pessoas que comem carne antes de irem para o trabalho espiritual. Assim como se você briga, discute, fica externando raiva de alguém, sua experiência muda. Alguns trabalhos no Perú exigem uma dieta de 7 dias, outros, antes de tomarem enteógenos passam por “purgas”.
Outro fator : O uso de plantas sagradas tende a fazer com que as pessoas passem a querer consumir produtos mais saudáveis. Quanto aos químicos, conheço muitos casos, nestes anos todos em que tive a graça de conhecer “as Plantas Sagradas”, de pessoas que largaram dependências químicas, vícios de álcool, etc. Lembrando que as Plantas possuem um poder depurativo, ou sejam elas provocam limpeza, quando acham algo a ser limpado. Tanto no corpo, como na mente, nas emoções e no espírito.
Alerta – A busca pelas Plantas de Poder pode ser perigosa. Não são todos os que dizem conhece-las, que as conhecem realmente. As Plantas de Poder só trazem resultados benéficos, se utilizadas dentro de um fundamento espiritual. Consagradas em rituais e preparadas de forma correta.
O texto abaixo é de Terence Mackenna foi um dos mais importantes e divertido estudioso de plantas enteógenas e visionário da América :
A história humana tem sido uma corrida de quinze mil anos, desde o equilíbrio no berço africano até a apoteose de desilusão, desvalorização e morte em massa no século XX. Agora estamos no limiar do voo estelar, das tecnologias de realidade virtual e de um xamanismo renascido que anuncia o abandono do corpo do macaco e do grupo tribal que sempre foram nosso contexto.
A era da imaginação está surgindo. As plantas xamânicas e os mundos que elas revelam são mundos dos quais imaginamos que viemos há muito, mundos de luz, poder e beleza que, de um modo ou de outro, estão por trás das visões escatológicas de todas as grandes religiões do mundo. Podemos reivindicar esse legado pródigo assim que pudermos refazer nossa linguagem e a nós mesmos.
Refazer nossa linguagem significa rejeitar a auto-imagem que herdamos da cultura dominadora – a imagem de uma criatura culpada pelo pecado, e portanto merecendo a exclusão do paraíso. O paraíso é nosso direito por nascença, e pode ser reivindicado por qualquer um de nós.
A natureza não é nossa inimiga, para ser estuprada e conquistada. A natureza somos nós, para ser investigada e tratada com carinho. O xamanismo sempre soube disso, e sempre, em suas expressões mais autênticas, ensinou que o caminho requer aliado. Esses aliados são as plantas alucinógenas e as misteriosas entidades mestras, luminosas e transcendentais, que residem na dimensão próxima, dimensão de beleza e compreensão extática que negamos até quase ser tarde demais.
Agora podemos nos dirigir para uma nova visão de nós mesmos e de nosso papel na natureza. Somos a espécie adaptável a tudo, somos os pensadores, os fazedores, os solucionadores de problemas
Trecho extraído do livro do meu querido amigo, o antropólogo Edward McRae: “Guiado Pela Lua “. – Ed. Brasiliense :
“O uso de psicoativos para variados fins, mas principalmente na busca da cura e contato com o divino, ocorre historicamente em muitas regiões do mundo. Os textos sagrados da Índia e os poemas épicos de Homero, na Grécia, trazem relatos sobre o uso de plantas e outras substâncias naturais para provocar alterações de consciência. Até em regiões tão ermas quanto a Sibéria usou-se cogumelos para fins xamânicos.
Entretanto, é nas Américas que se concentra o maior número dessas substâncias, e onde até hoje mais frequentemente se faz uso delas. Seu emprego nesta região do mundo está ligado mais a fins sagrados, na recreacionais, para validar ou retificar a cultura, e não como uma maneira de temporariamente escapar dela. É possível que a maioria das tribos indígenas da região da bacia do Amazonas e do Orenoco use preparados feitos de uma ou mais plantas psicoativas em funções centrais da sua vida religiosa e cultural.
De todas as plantas, a que tem seu uso mais difundido é a Banisteriopsis, cujas variedades, caapi, quitenses e inebrians são utilizadas no preparo da ayahuasca. As receitas dessa bebida variam, e os diversos grupos adicionam a ela diferentes ervas, dependendo de suas tradições e dos fins a que ela se destina. Geralmente incluem a Diploterys Cabrerana, a Psychotria Carthaginensis ou mais comumente, a Psychotria viridis, que se crê eficientes em reforçar e sustentar as visões provocadas.”
Comentários do médico francês Jacques Mabit, estudioso da ayahuasca, fundador Takiwasi – Centro de Reabilitação de Toxicômanos e de Investigação de Medicinas Tradicionais, em Tarapoto – Peru :
“O vocabulário “alucinação”, amplamente utilizado, possui um claro sentido depreciativo que prejudica a questão a debater. Parece-nos mais apropriado em tal debate falar de “visão” e de “ver” para designar as percepções mentais experimentadas em uma sessão de Ayahuasca, cobrindo assim não sómente a imaginação mental, principal, mas também as percepções atribuídas aos outros sentidos. Não se qualifica de alucinação uma visão que conduza a uma ação eficiente ou operatória permitindo ao sujeito dominar melhor o seu universo interior. O “ver” não é experimentado como uma compreensão de ordem intelectual, mas como um entendimento imediato, global e instantâneo que mobiliza todos os sentidos e funções. A visão se manifesta do mesmo modo que um insight.
O mundo visionário das plantas oferece ampliar o panorama mental do sujeito ocidental e em lugar da uniformização triste, linear e monótona de sua excessiva mentalização racional, outorgar-lhe uma abordagem renovada da vida em todas a sua amplitude, descobrindo-lhe realidades múltiplas ou múltiplos olhares sobre a realidade, com maior integração de seu corpo e de seu coração, de sua materialidade e sua afetividade ”
Comentários do Padrinho Alex Polari de Alverga, Diretor de Comunicação do CEFLURIS – Santo Daime, fundador da Comunidade Céu da Montanha em Mauá -RJ
“Algumas teorias especulam que, na aurora dos tempos, as plantas divinatórias foram o fruto proibido que influiu decisivamente na passagem da semiconsciência biológica para a consciência humana, trazendo com ela a faca de dois gumes do livre-arbítrio. Ajustou-se assim o espírito à matéria e consumou-se a queda do espírito na carne.
Estamos no crepúsculo desse mesmo tempo e não é a toa que a relação entre mente, consciência e espírito, trazida a baila pelo uso de plantas de poder, esteja hoje tão presente em nossa civilização, confundida pela desinformação e pelo preconceito com uma das questões mais inquietantes dessa nova civilização : as drogas.
Pessoalmente acho positivo o fato das plantas de poder não serem uma unanimidade. Se assim fosse, talvez não houvesse plantas para todos, e a ciência se apropriaria desse conhecimento, do mesmo jeito que quer fazer hoje com a acupuntura e outras práticas naturais.”