Portas da Percepção

 

Nossa consciência habitualmente registra somente uma parcela da realidade, aquela que aprendemos a ver e a definir através da educação e da linguagem. Mas há outros estados de consciência que abrem as portas de nossas percepções para mundos desconhecidos, maravilhosos ou fantasmagóricos. Thamara Hormaechea

A consciência é o estado mais comum de nossa mente. estamos conscientes quando estamos acordados e é através da consciência que percebemos a realidade que nos rodeia. Quando estamos profundamente adormecidos, não nos damos conta se faz frio ou calor, se há ruídos por perto de nós ou se alguém nos toca suavemente. Nesses momentos é o inconsciente que tem o controle da situação.

 

Ainda que nossa percepções sofram ligeiras modificações, na maior parte das vezes determinadas pelas emoções que sentimos.

Um minuto pode passar voando ou parecer eterno, os ruídos podem nos parecer fortíssimos se estamos em alerta ou inexistentes, se estamos distraídos, etc.

Nosso estado de consciência pode sofrer modificações muito mais profundas, que determinam uma percepção totalmente diferente da realidade. Este comportamento, este “entrar num mundo diferente”, tem uma denominação não muito clara, porém bastante útil para defini-lo como estado alterado de consciência.

Ainda que possamos cair espontaneamente num desses estados e o sonho é um exemplo disso – há situações que propiciam a aparição dos mesmos, como assinala Arnold M. Ludwig, que colaborou no livro Altered state of Consciousness.

Quando os estímulos que nos chegam do exterior são excessivos, é como nossa mente não tivesse tempo para processá-los corretamente. Muitas pessoas que estiveram em bombardeios, que passaram por interrogatórios violentos ou que sofreram os horrores de uma batalha começam a vagar sem rumo, sem sber onde estão e, logicamente, sem formular pensamentos coerentes. Mas, sem chegar a esses casos extremos, pensemos nas vezes em que uma notícia má ou boa nos deixa, ainda que por poucos segundos, completamente estarrecidos.
É como se acontecesse uma espécie de curto circuito mental. Se alguém falasse conosco nesse momento, não conseguiríamos compreender nem prestar atenção em uma só palavra.

Assim como um excesso de estímulos pode nos levar a um estado alterado de consciência, também a falta deles pode dar igual resultado. Isto ´o que acontece com navegadores solitários ou com exploradores perdidos num deserto, vendo somente areia, ou seja, uma paisagem uniforme e monótona. A ausência
de sons ou elementos que chamem nossa atenção visual provoca estados alucinatórios.

 

Hoje em dia existem câmaras de privação sensorial ou “bolhas de flutuação” onde o sujeito se submerge em água temperada (à temperatura corporal” e não entra som nem luz. Nesses lugares as pessoas experimentam estranhas e agradáveis sensações.

Quando a mente se submete a uma tensão excessiva, a uma constante e prolongada atenção – como é o caso de quem está diante de uma tela de radar ou dos sentinelas com grandes períodos de vigilância – pode começar a funcionar de maneira diferente. Ao contrário, qualquer um que tenha passado vários dias muito concentrado sobre um tema apara fazer, um exame, ao terminar esse exame (ou seja quando coloca um ponto final numa tensão de muitas horas) não somente se sente liberado como também um pouco tonto ou esquisito, diferente do normal. Sem que isto constitua uma alteração profunda da consciência, poderíamos dizer que a percepção de realidade é ligeiramente diferente da normal. Isto é apenas uma pequena amostra do que poderia acontecer se houvesse um estado mental realmente alterado.

O relaxamento e a supressão das faculdades críticas (o zerar a mente) podem nos levar a idênticos resultados. Quem conhece muito bem estas técnicas são os místicos das diferentes religiões, já que as utilizam em seus estados de contemplação, tais como o satori e nirvana.

Além dos fatores psíquicos, há também causas físicas que podem provocar alguma alteração de consciência. Segundo alguns estudiosos, os castigos físicos involuntários dos místicos tem como finalidade estimular as secreções de certas glândulas, favorecendo assim a aparição destes estados mentais.

(Matéria Ano Zero fev 92 )

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