Samadhi

 

Mouni Sadhu – ed. Pensamento

 

 

Na segunda metade do século XX, a questão dos aspectos superiores de consciência do homem, comumente chamados de supraconsciência, está se tornando cada vez mais urgente para os pensadores profundos. Muitas obras têm aparecido sobre o assunto e, a julgar pela popularidade que alcançam, pode-se deduzir o interesse que suscitam.

Para um homem de pensamento, não há duvidas que a consciência dos seres humanos vem sendo submetida a uma evolução constante. Ninguém negaria que há apenas dois milênios o Eu do homem era muito mais primitivo que no século XX, para não falar em raças e tribos pré-históricas pertencentes, digamos, à Idade da Pedra, etc.

O fato de a humanidade estar passando pela evolução do seu tesouro interior, que é a consciência do Eu, não significa que todos estejam progredindo com a mesma intensidade. Nessa questão não há, e nunca houve, nenhuma igualdade. Os caminhos sempre foram mostrados pelos filhos mais desenvolvidos do homem, e os demais os seguiram, com maior ou menor lentidão. Não há dúvida de que se houvesse um Sócrates ou um Pitágoras vivendo em nosso tempo, eles também seriam reconhecidos pelo menos como homens sábios e eminentes por aqueles cujo critério interior fosse suficientemente desenvolvido.

Mas isso não significa que todas as pessoas que viveram na época de Sócrates fossem receber reconhecimento e respeito semelhantes em função de suas qualidades, que, para nós, poderiam mostrar-se um tanto limitadas e primitivas.

O mesmo ocorre em nossa época: poucas pessoas tornam-se suficientemente maduras para trilhar novos caminhos, novas formas de consciência existente entre nós. As massas não estão interessadas neles, preferindo usar os aspectos mais materiais da civilização, como o mais recente progresso técnico, com todas as invenções e engenhocas decorrentes.

Como definição principal, em conformidade com a tradição ocultista oriental e ocidental, temos de fazer uma estrita distinção entre dois tipos de termos :

 

1. Visões Suprasensoriais : Êxtases, Aparições, Evocações Mágicas, Sexto Sentido, Fenômenos mesméricos e Espíritas; em resumo, tudo o que sabemos a partir de livros populares sobre temas ocultistas.

2. Supraconsciência Real, que independe de todas as visões e de outras condições interiores ou exteriores nas quais o homem possa se encontrar.

 

Consideramos as expansões da percepção (visões, êxtases, transes, clarividência, clariaudiência, mediunidade, etc.) como meros aguçamento e desenvolvimento de sentidos não físicos do homem, embora não passem de um tipo diferente de atividade dos sentidos físicos. Assim, ensinou Sri Ramana Maharshi (o principal expoente do pensamento contemporâneo hindu). Vemos que, nesse caso, nenhum principio foi alterado; houve apenas a ampliação da escala de percepções. Em outras palavras, ainda permanece o velho binário : Eu e Não-Eu. Na filosofia ocultista, os binários não resolvidos são conhecidos como concepções não-produtivas, que nos mantêm na velha ignorância básica da Suprema Verdade do Ser. Dessa maneira, não podemos encontrar, na relatividade de nossa imersão em mundos diferentes nenhuma consciência suprema, ou seja, absoluta e não relativa, que possa ser definida como verdadeira “Supraconsciência”.

 

Maharshi afirma:

A – Somente o Samadhi pode revelar a verdade.

B – No Samadhi há apenas a sensação Eu-Eu, e nenhum pensamento. É, evidente uma tentativa de exprimir, na linguagem e terminologia da mente, o que de fato não pode ser interpretado por palavras. Mesmo com tal dificuldade, essa afirmação do sábio Maharshi tem um caráter iluminador e prático.

 

 

“O que existe no Samadhi, quando o homem está nesse estado de consciência ?”

– A Unidade essencial e gloriosa, onde não existe dualidade. Há apenas o Eu sem palavras e sem pensamentos, ou o Eu Sou. Por coincidência, esse Eu Sou o que Sou é uma definição do Ser Supremo (Essência), de que fala o Antigo Testamento. Maharshi mais de uma vez sublimou esse fato.

O alvo a ser atingido pela consecução do Samadhi é entrar num estado de consciência pura, em que não há sujeito nem objeto. Não é preciso ressaltar que esse estado se acha muito além de todas as encarnações, isto é, vida em formas; na realidade, ele transcende todos os corpos, limitações e condições, nele não havendo, como já se disse, sujeito nem objeto.

Por certo, não é fácil sequer imaginar tais alturas com o esforço da mente; mas isso não é senão natural e lógico. No Samadhi, a mente é deixada muito para trás, como instrumento de consciência, e com ela ficam métodos os sentimentos e pensamentos, que estão ausentes daquele estado sublime. Cessam também todas as transformações.

Permanece apenas a Paz que nada pode perturbar.

Essa é a paz, que ultrapassa todo o entendimento (mente) humano. E, no entanto, mesmo agora, há almas nesta Terra que atingiram essa Paz, e também aquelas que estão lutando para atingi-la.

O desenvolvimento do Samadhi, transforma toda a consciência de um homem, os seus pontos de vista, os seus interesses, os seus empenhos e os seus objetivos. Ele mata a atitude egocêntrica e mostra ao homem a realidade da vida física, em toda a sua relatividade e com todas as suas imperfeições. Ele remove o espectro da morte, que é inseparável da existência num corpo. Então, como é natural, o homem não se considera uma incômoda e teórica combinação de “corpo e alma”, sem ter nenhum conhecimento real da “alma”, que opera apenas com teorizações emprestadas.

Ao se atingir a Consciência Absoluta (no Samadhi), não há lugar para a relatividade ou imperfeições. Supera todas as coisas sujeitas ao tempo e ao espaço.

Definição de Blavatsky, (extraída do Glossário Teosófico) :`Samadhi é um estado de arrebatamento extático completo. Tal palavra deriva das palavras sam-âdha, (posse de si mesmo). Quem possui tal poder é capaz de exercer um domínio absoluto sobre todas as faculdades, tanto físicas quanto mentais. É o supremo grau do Yoga. É a contemplação extática ou supraconsciência, é aquele estado em que a concentração mental chega a um ponto tão extremo, que a mente assim fixa unifica-se com o objeto em que se encontra concentrada ( ou seja, o Espírito), cessando todas as suas transformações, e o asceta perde a consciência de toda individualidade, inclusive a sua própria, e se converte no TODO. O Samadhi é um estado em que a consciência se encontra tão dissociada do corpo, que este permanece insensível. É um estado de alienação ou de êxtase, no qual a mente está completamente consciente de si mesma, e do qual volta ao corpo com o conhecimento ou experiências adquiridas durante o mesmo, recordando-os logo que retorna ao cérebro físico.

Annie Besant: O samadhi é de dois tipos Savikalpa – aquele em que a mente se encontra em repouso temporal, sem estar completamente absorvida no Espírito; e Nirvikalpa – é o mais elevado, aquele em que, graças a um desprendimento total supremo, a mente se encontra absorvida no Espírito e o vê em todas as partes. estando então a mente aniquilada, só o Espírito brilha em toda a sua glória natural e o iogue adquire a consciência intuitiva.

 

Cântico da Alma – Sankarachaya – Atman Dourado

 

Não sou ego nem razão, nem sou mente ou pensamento

Não posso ser ouvido ou vertido em palavras,

nem pelo odor ou visão jamais ser captado :

Sou a consciência e a felicidade encarnada, sou a

Bem-aventurança do Bem-aventurado

Não sou encontrado nem na luz, nem no vento, nem na terra, nem no céu

Não tenho nome, não tenho vida, não respiro o sopro vital,

Nenhum elemento me conformou, nenhuma veste corpórea é minha morada:

Não tenho fala, nem mãos, nem pés, nem meios de evolução

Sou a consciência e a felicidade, e a Bem-aventurança em extinção.

Deixo de lado ódio e paixão, vencí a ilusão e a cobiça;

Nenhum toque de orgulho me acaricia; assim, a inveja nunca é criada;

Além de todas as crenças, passada a influência da riqueza, da liberdade e do desejo,

Sou a consciência e a felicidade, e a Bem-aventurança é o meu ornamento.

Virtude e vício, ou prazer e dor não são a minha herança,

Nem textos sagrados, nem oferendas, nem oração, nem poeregrinação;

Não sou comida, nem alimentação, nem sou aquele que come

Sou a consciência e a felicidade encarnadas,

Sou a Bem-aventurança do Bem-aventurado

Não tenho medo da morte, nem me dividem abismos de raça,

Nenhum Pai jamais me chamou de filho,

nenhum vínculo de nascimento jamais me enlaçou;

Não sou discípúlo nem mestre, não tenho parente nem amigo

Sou a consciência e a felicidade, e imergir na

Bem-aventurança é o meu fim.

Não sou nem cognoscível, nem conhecimento ou cognoscente;

ser informe é a minha forma,

Resido dentro dos sentidos, mas eles não são o meu lar :

Para sempre serenamente equilibrado, não estou livre nem atado

Sou a consciência e a felicidade,

é na Bem-aventurança que sou encontrado!

 

Compartilhe: