XAMANISMO, FANATISMO E A NOVA CONSCIÊNCIA

Quero compartilhar, como um observador, o que venho lendo, sentindo e ouvindo, em minhas meditações, sobre o que vem acontecendo não no xamanismo brasileiro como um todo, que é muito grande, mas fundamentalmente neste novo xamanismo que estamos vendo nascer. Um xamanismo que é praticado nos espaços urbanos, nos sítios, nas casas, nos jardins e até chegando às novelas.

Esse novo xamanismo surgiu da necessidade de um segmento de pessoas que buscam outros estados de consciência para viver de forma mais sagrada, ecologicamente correta, em  paz e principalmente usar seu livre arbítrio, sem preconceitos. Assim elas unem-se àqueles que compartilham do seu caminho neste Universo de muitas moradas. Segundo Castañeda, Dom Juan ensinou que um homem de conhecimento não é um guia de comportamento.

Os instrutores, xamãs, que fui encontrando em minha caminhada tinham suas diferenças de pensamentos e práticas, mas uma coisa em comum: o reconhecimento que humanos são todos irmãos e irmãs para cada outro e para as criaturas do planeta e a honrar o sagrado ponto de vista do outro.

Black Elk 1998

Em 1998 conversando com Walace Black Elk (fez a  passagem da alma em janeiro de 2.004), o Alce Negro, líder dos lakotas (EUA) um dia após ter participado de uma INIPI, conduzida por ele próprio, fiquei encantado com as palavras doces, alegres, porém penetrantes que ele usava, referindo-se aos países que usam a violência para obter a paz. Uma controvérsia! Faz parte de seus ensinamentos que, a palavra do povo dele desconhece, eles são os povos da Terra, e os que não nasceram lakotas, não sabem realmente o que é ser um. Não são educados da forma lakota. Isso não se aprende em livros.

Ele também ensinou :

Os espíritos nos disseram que este é um lugar para viver em paz. Este é um Lar de Paz e … lakota significa paz. Nós somos lakotas. Nós somos as lendas vivas. Nós vivemos na evidência da paz.

Então são tempos dos corações das crianças aprenderem a serem homens de paz.

O pensamento nativo, no mundo inteiro, está voltado para a paz, nenhuma tribo está com desejos de vingança, todos sabem que agora é o momento de nos unirmos em torno da Paz na Terra. Os nativos norte americanos cultuam o “Grande Mistério”. Eles sabem que é a fonte e a origem de tudo o que é vivo. Usam  mais parte do seu tempo para amar e respeitar.

Os que como eu buscam no xamanismo uma forma mais sagrada de viver; os sacerdotes, xamãs e líderes, reconhecem o poder da maneira humilde e tem a dedicação para rezar.

Tem um termo agora criado por nativos, enjoados com tudo o que acontece, que chama-se : XAMÃ DE PLÁSTICO. Esse termo é usado para pessoas que tentam se passar por xamãs ou líderes espirituais, mas que não tem nenhuma conexão genuína com a tribo ou tradição que ele diz representar.

Eles também alertam para os perigos dos praticantes sofrerem algum risco psicológico e emocional; a ilusão das pessoas se sentirem como participantes de uma tribo que só existe na psicose do condutor. Dizem:

Eles não têm comportamento ético, não foram instruídos por instrutores nativos, usam os nomes das culturas, prejudicam a reputação das culturas usando suas idéias e pensamentos como se fossem da cultura. Dão ao povo idéias falsas sobre cerimoniais e rituais.

Muitos ativistas nativos estão trabalhando, no sentido de que, os chamados por eles depredadores, que exploram os nomes e as tradições indígenas, façam reparos inclusive de forma monetária. Eles dizem que nenhum nativo tradicional chama seus líderes espirituais de xamãs, que é um termo da Sibéria.

Parece até que para ter valor no xamanismo precisa de uma ligação indígena! Se eu tenho não sei! Só posso afirmar que meus avós eram genuinamente italianos. Posso afirmar que sou brasileiro e jamais negarei a minha raça e o nome que meus pais me deram. Isso eu aprendi honrando as raízes no próprio xamanismo. Acredito que eu vim para este mundo para ser Léo Artese. E estou me esforçando muito para aprender a ser irmão.  Aprendi e aprendo com índios, brancos, negros e orientais.

No xamanismo meu vôo é solo. Não represento nenhuma tradição. Se fui índio em vidas passadas isso só serve para minha referência ou motivação interna, para os meus irmãos o que interessa é o que eu sou nesta vida. Que é ser um branco! Se eu fosse para ser índio, Deus na sua infinita sabedoria me faria nascer numa tribo. Não vou passar a minha vida negando a minha raça, se estou em busca da minha verdade.

Sempre evitei acusar, julgar ou criticar esse ou aquele condutor, e nem responder conteúdos mal-intencionados, por mais que eu tenha vontade. Não é meu papel julgar ninguém, isso está começando a acontecer com os próprios participantes. E o tempo será soberano e o retorno implacável. Essa é a lei! Cada um que vista ou não a cartola; mas por respeito à tudo o que aprendi resolvi escrever este artigo.

Aprendi que um mestre verdadeiro não se autoproclama. Ele não necessita disso, seu exemplo de vida faz com que as pessoas o cerquem. Não incitam as pessoas ao ódio, a raiva, a perseguição, as calúnias, são guerreiros da paz. Não tem respostas para tudo pois sabem que a verdadeira caminhada começa dentro de nós mesmos, uma jornada interior. Não vive fazendo discursos repetitivos, unilaterais e delirantes. Incentiva seus discípulos a aprenderem por si mesmos, com livre arbítrio. Não fica falando o que pode e o que não pode! Inspira a liberdade para as pessoas tomarem as decisões por si mesmas.

Existem tipos de pessoas que não fazem a menor idéia do que está acontecendo em seus próprios mundos pessoais. São as ovelhas!

Atenção pois, todos os buscadores, o fanatismo só lhe atinge se sua inteligência estiver afetada. O fanático religioso aparentemente é normal. Ele cria inimigos aleatórios, os inimigos devem pagar, devem ser castigados. Inspira o ressentimento, a revanche, vingança de uma humilhação e o quadro só pode se completar se tiver um inimigo, pois do contrário não haverá um herói.

Cuidado! O seu líder pode ter atitudes psicóticas e os sintomas são: dizer ter a verdade absoluta; que foi escolhido para uma missão; que tem uma vingança astral de vidas passadas. Leve os textos para um psiquiatra analisar. Soube de um psiquiatra que o pior de todos os fanáticos é o que incita ações contra os impuros, os infiéis, os falsos, e daí desenvolvem uma estratégia de perseguição contra todos os que não concordam com ele. Ele faz do seu ego narcisista (eu falei, eu sou, eu faço, eu sei, etc.,) um sistema moralista cheio de raiva em relação àquilo que condena; como se pensar diferente fosse ser um inimigo que precisa ser destruído para reinar o bem. Ele perde o sentido de respeito com as pessoas que fazem diferente. Ele desafia e bate no peito: Quero ver quem pode comigo! Todo o fanático é intolerante.

Se você nem aceita pensar diferente sobre seu líder já está dominado. Significa que abdicou de seu raciocínio crítico, tornou-se mero objeto de idéias delirantes, adotando expressões e pensamentos estereotipados, caretas pseudo-moralistas, muitas vezes usando o sistema como escudo para manter proibicionismos e usurpar a verdadeira liberdade de expressão, reprimindo o potencial criativo ou de prazer genuíno das pessoas que é um dos maiores valores do pensamento nativo e espiritual.

Analise se você está tão submetido às idéias de um líder assim, e está aqui, agora mesmo, nesta leitura, achando um absurdo pensar diferente. Ou querer se apegar a qualquer coisa para salvar essas idéias doentes, e se decepcionar, ou melhor, se desiludir ao saber que  um dia achou um mestre que poderia lhe trazer a iluminação e, depois descobre que por trás desse mestre também existia uma personalidade humana com suas falhas e defeitos. Principalmente os recém convertidos estão sempre convictos que a verdade chegou e tem que ser para todos, sem discussão.

O fanatismo é contagioso, atrai adeptos geralmente com crises pessoais intensas. Ele geralmente atrai pessoas vulneráveis, desesperados, desgarrados, incrédulos, rejeitados, desiludidos e rancorosos.

Enquanto os ativistas pregam em nome de uma causa justa: falta de alimentação, doenças, liberdade de expressão religiosa, conservação do meio-ambiente, liberdade no uso de enteógenos, etc.; o fanático assume uma postura intolerante em relação a outras idéias e trabalha para ser do contra. Certas verdades que alega são interpretações exageradas e mentirosas passadas de formas emocionadas, descontextualizadas. Ele é megalomaníaco! Tudo para ele é grande! Já curou milhares, já libertou milhares, tudo que ele faz é grande!

O fanático gosta de maniqueísmo, adora dividir o bem do mal, o certo do errado, o falso e o verdadeiro, que geralmente funciona com espíritos fracos. Não seja ingênuo! Fuja em quanto é tempo! E quanto mais ele apresentar um cenário decadente, mais aceitação terá para as suas ações, canalizando ressentimentos de massa, através de uma promessa de vitória espetacular sobre o inimigo. A vitória final.

Também usam a palavra tocando num ponto fraco, o Ego: Você é o escolhido! Você é muito importante para nós! Sua missão irá salvar o Planeta! E quando tocam pessoas com carência e predisposição para tal, dá-se o deslumbramento, o encanto, a adesão. O terror usa isso, persuadindo suicidas, de que estes estão prestando um serviço para Deus e serão recompensados, do outro lado.

Fico imaginando os discípulos. Na verdade são vítimas, alimentados por líderes mundanos, que se consideram apóstolos, pregam uma fé cega, assumindo o heroico papel de expulsar os demônios. Sentem-se os combatentes do mal e estão lá para salvar a humanidade do caos. Então, para justificar a sua função, vão vendo o demônio em tudo. Senão perderiam o cargo! Portanto, criam uma fantasia divina maniqueísta: se não estão com eles, estão com o diabo. A base da retórica é o medo que se espalha na livre expressão, nos hábitos e costumes, na cultura, criando um mundo suspeito e hostil.

É importante relembrar que a história da humanidade é também pautada por inúmeros episódios de fanatismos. Para eles não é importante somente ser um seguidor, ter uma missão espiritual. Alicerçados na sensação de superioridade sobre os demais, viram combatentes que devem expulsar os infiéis ou convertê-los e para isso os fins justificam os meios. Geralmente se apegam a um sistema pseudo-moralista, carregado de ódio. Talvez um bom nome para esse tipo de movimento seja neo-inquisição.

A maior característica do fanatismo é a intolerância e o sectarismo que aprisiona a liberdade de consciência. Eles parecem não ter idéias próprias, pouco inteligentes, têm um discurso repetitivo e delirante e no caso só atrapalham, irritam, causam conflitos. O grande problema é quando o fanatismo torna-se uma causa suprema; e adota meios violentos e até cruéis. Hoje é crescente o número de sensitivos que canalizam mensagens. É muito tênue o fio que separa o fenômeno da canalização, da inspiração de uma personalidade humana.

Gostei muito de ler esta interpretação de Angeles Arrien, escritora do “Caminho Quádruplo”, Ed. Ágora:

A forma que o visionário tem de conservar a autenticidade e permanecer dentro do Arco Sagrado é dizer a verdade sem acusar nem julgar. Dizer a Verdade é um valor universal que destrói os padrões de negação e indulgência.

Dizer a verdade, sem críticas ou julgamentos, é a capacidade de expressar as coisas como elas são. Podemos fazer sem abdicar de nossas idéias, refletindo maneiras de se expressar com “a língua e o espírito”.

Aqueles que usam da palavra para julgar ou condenar os outros, deveriam considerar com mais atenção a lei das manifestações, algo que os antigos magos praticavam. Os pensamentos e as palavras afetam em conjunto os padrões energéticos da nossa aura, gerando formas-pensamento que nos influenciam em todos os níveis, além de atraírem material astral que vibra na mesma sintonia. É a lei das correspondências.

Estamos vivendo um momento marcante, à medida que os novos tempos se aproximam a atenção da humanidade se focaliza nos medos e esperanças coletivos para o mundo futuro… Muitos pessoas sentem a vida caótica e turbulenta emocionalmente.

Nestes tempos temos a oportunidade  preciosa de superarmos a negatividade, concentrando no perdão e compaixão e liberdade. Vamos aprender com a jornada da humanidade através dos tempos. No xamanismo aprendi a respeitar os velhos por sua sabedoria e os jovens pela força e renovação.

A palavra tem uma singeleza e sutileza. Você percebe o grau de um ser, de acordo com a forma como se expressa. Os estudiosos afirmam que os anjos falam metaforicamente, como se fosse a PNL (programação neuro-linguística). Jesus Cristo falava por parábolas, os Mestres ensinavam através dos contos, usavam a palavra com maestria. Perceba como são lindos os Decretos da Fraternidade Branca. Reflita então, que tipo de mestre espiritual usaria termos chulos, agressivos, desafiadores?

As entidades de luz falam sem emoção, são serenas, não sentem raiva, pois compreendem a existência humana, não brigam, mas mostram o caminho. Agora, não é para a compreensão de todos! E não foi sempre assim? Para a minoria?

Os mestres xamânicos, se expressam poeticamente! Seus ensinamentos são expressos, abrindo o livro da Natureza. Uma verdade que se esconde debaixo de cada pedra, de cada folha. A Sabedoria ancestral, fruto da observação da vida do homem na Terra, passado de pai para filho, cruzando as eras e formando uma rede de poder.

Faço parte de um grupo que acredita que podemos criar um novo planeta. É o momento apropriado para explorarmos o Universo que existe dentro de cada um de nós. Uma boa oportunidade para conduzirmos nossas vidas. Mas é melhor usar as forças para proteger dos desafios naturais da vida e criar relacionamentos harmoniosos.

Vamos começar pelo respeito às diferenças!

Quero propor à todos nós que buscamos expandir a consciência através do xamanismo, que usemos nossos esforços mais para construir do que destruir. Vamos focalizar as nossas medicinas para atender aos que nos procuram, ao invés de atacar grupos ou centros que por caminhos diferentes buscam a felicidade e se encontraram em seus lugares. Vamos voltar as nossas mentes para os Grandes Problemas que afligem nossa humanidade que é a fome, as doenças, a loucura, a violência, a exclusão, e não como cada centro pratica a sua fé.

Proponho cada um olhar para o seu próprio trabalho e procurar dar conta daquilo que está chamando para si. Pois se chamar algo maior do que puder suportar o peso te achata. A lei do Universo é soberana. Vamos viver em paz uns com os outros, o que não significa concordar e sim respeitar.

E nesse momento eu chamo a paz dentro de mim, buscando a paz que vem de você que está lendo agora, para que chegue a paz ao nosso redor e que na paz possamos seguir.

Por Todas As Nossas Relações

Léo Artese

Compartilhe: